Trancadura Mágica
Ali na subidinha da Dom Afonso com a Oito de
Setembro tem aquela casa mágica que vende vários objetos. Não é coisa de
umbanda, é apenas mágico, e é sofisticado. Procure o senhor Mário.
Esse ladrão se deu muito mal.
Foi tentar arrombar a trancadura (não é
fechadura, tá com esse nome não é à toa) no portão da casa e se arrebentou
mesmo. Em primeiro lugar, a pessoa acredita que o muro é alto, mais de 10
metros, quando na realidade até uma criança (se pudesse ver a verdade) passaria
facilmente por cima.
Aí o bandido foi para o portão, que tem a
tranca mágica.
Nesse dia eu (que moro na casa defronte)
fiquei olhando, sou aposentado, não tenho nada para fazer, também tenho o “muro
10”, de dentro dá pra ver tudo, fiquei de buzuca. Ele ficou ali mais de duas
horas tentando, pensou que tinha chegado há minutos. Eu ria pra caramba,
gargalhava, ele olhava e não via ninguém, porque para ele eu estava oculto
atrás do meu muro. Cara, eu quase rolava.
Ele ficou ali aquelas duas horas, como se
tivesse acabado de chegar, era de manhãzinha àquela hora de ladrão entre as
três e as cinco, estou aposentado e tenho insônia, fiquei rindo. Ele tentava
abrir a trancadura e não tinha jeito. Parecia fácil, não tinha cadeado, não era
fechadura complicada, parecia que qualquer um poderia abrir, ledo engano. Foi
dando seis horas, quando viu clarear ele olhou no relógio, ficou assombrado e
assustado, picou a mula. Não se deu por vencido, foi comprar uma chavedura lá
na mesma loja.
Abrir, abria, mas logo a trancadura fechava,
ficava naquele jogo de empurra, eu me torcia, tava com dor na barriga, abria,
fechava, abria, fechava, já estava ficando sem fôlego, estava guinchando, a
mulher correu pensando que eu tava passando mal, expliquei, “olhe lá”, ela
sentou e ficou rindo mais que eu. Precisava se segurar na cadeira, os dedos
ficaram brancos de tanta força que ela fazia para se aguentar.
E abre e fecha e abre e fecha, os poderes
mágicos lutavam um contra o outro. Abrir, abria, o ladrão se preparava para
entrar, fechava, até que ele teve a brilhante ideia de colocar o pé para
escorar e aí foi pior, o pé imprensou, ficou entalado, não podia nem entrar nem
tirar, ficou ali, abria e fechava no pé que estava sendo esmagado, pensei em
chamar a polícia mágica, mas o dono já tinha acordado com os gritos do Zé Mané,
a vizinhança toda, o ladrão ficou lá com o baticum do abre-fecha.
Nunca ri tanto na minha vida. Foi de arrasar,
passei uma semana feliz, dormindo bem à bessa.
Serra, terça-feira, 30 de outubro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário