A Convenção dos Sinais
Entregues os crachás, os convencionais foram
procurar cadeira na ampla sala das convenções, repleta de sinais para quem
quisesse ver.
Exclamação foi empurrando quem estivesse na
frente.
- Sai! Vai! Afasta!
Falava sempre com muita firmeza e ia
rompendo, não importando quem fosse. Ia acotovelando homens e mulheres, até os
pequeninos, ia vazando.
- Aonde você vai? O que está fazendo? Quem
pensa que é?
Interrogação não estava nada de bom humor.
Tinha acabado de vir de um interrogatório policial e manifestava o desagrado a
quem pudesse.
Exclamação tinha finalmente acabado de sentar
à esquerda de Mais e de Multiplicação, que conversavam animadamente, procurando
sempre acrescentar.
Disse, truculento:
- Vírgula, vê se baixa o cabeção aí! Se você
se escondesse mais ajudaria a vida de todos, tá bom! (Era pra ser pergunta, mas
nada melhor que exclamar!)
Pior que ele tinha sentado à direita de
Travessão, gordo e espaçoso.
- Hei, não empurra, sua besta.
Do outro lado estavam dois colchetes,
aparentemente guardando lugar entre eles pra alguém. Exclamação fez que ia
sentar entre eles, mudando de cadeira, esperando livrar-se de Travessão, mas os
dois foram taxativos.
- Aqui, não. Vai chegar gente.
Olhou pra trás, mas tinha o Ponto Final, que
não dava papo pra ninguém. Pequeno, mas enjoado, melhor não mexer com ele.
Junto de Vírgula, na frente, estava Reticências. É ruim, hem, pensou, esse cara
não consegue dizer coisa com coisa, sempre em dúvida, nunca consegue falar algo
direto, é o contrário de mim. Do lado direito de Travessão estava Travessinha,
como as pessoas chamavam Hífen. Os dois só andavam juntos, o Gordo e o Magro,
os boiolas.
- Pôrra, tá difícil, hoje! – falou
entredentes Exclamação.
Duas cadeiras para trás ele viu Ponto e
Vírgula, camaradinha cem por cento, sempre abria espaço para alguém, mas ele
estava imprensado entre as gêmeas Aspas Abertas e Aspas Fechadas, junto dos
gêmeos Apóstrofos.
- Que merda, que merda! Tô entalado! Bosta, ô
troço entupido, senhor!
De fato, toda uma seção da sala estava
ocupada pelos Sinais de Trânsito, parentada difícil e orgulhosa, só porque era
dona de veículos.
- Não sei por que eu vim a essa merda!
Os sinais aritméticos e matemáticos em geral
eram outros que só andavam juntos. Radiciação e Exponenciação eram os
mais-mais, os gostosinhos da parada, mas os outros não ficavam para trás,
porque lidavam principalmente com dinheiro e essa gente cheia de grana é de uma
babaquice a toda prova.
Dois Pontos estava “guardando lugar para
gente importante”, disse ele.
- Todo esse lado direito aqui tem mais
significado – disse ele.
- E eu com isso?
Era Interrogação partilhando as dores de
Exclamação.
- É mesmo, foda-se você! Acho que ele não
sabe que as pessoas gozam dele, “dois pontos, o de baixo primeiro pro de cima
não cair”!
- Tá separado por família?
- Sim e não – respondeu Ponto e Vírgula. Por
exemplo, ali você pode ver Infinito, está tão gordo que ocupou duas cadeiras junto
da gente. PI ficou famoso, virou estrela, está sentado lá em cima. Igual quer
agradar todo mundo e ninguém o suporta, nem a própria família, os Matemáticos.
- Tá vendo lá?
- Tou!
- Lá mais para cima?
- Tou, caramba, já disse que tou!
- Viu o Chaves?
- Até os venezuelanos vieram!
- Caramba, os gregos também vieram?
Conseguiram convencer todo mundo, né? Que coisa espantosa, né?
Nisso os sinais musicais começaram a tocar e
a cantar.
- Essa porra é pra calar a gente!
- Não é mesmo?
Mas em vez de silenciar, aí que começou o
burburinho, parecia até reunião estudantil, ninguém conseguia se entender.
Serra, sábado, 01 de maio de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário