A Bomba H do Maranhão
Para fazer trocadilho, a notícia caiu
como uma bomba e a imprensa ficou ouriçadíssima, quem iria imaginar que o
Maranhão estivesse avançado a ponto de fabricar a Bomba H? O Brasil no
seletíssimo clube dos atômicos? Não dá para imaginar.
As equipes nacionais de jornalistas
foram despachadas às pressas, atabalhoadamente, enquanto os jornalistas
estrangeiros cobravam antigos favores de amortecimento das notícias contra
Lula, contratavam intérpretes. Os vôos para São Luís estavam repletos, gente
fazendo fila nas áreas VIP, telefonemas desesperados, pauzinhos sendo mexidos,
ninguém queria perder tal evento.
Quando na universidade federal
souberam do fuxico, do tititi ficaram estarrecidos.
PROFESSOR – onde essa gente está com a
cabeça, uma coisa tão simples, pra quê tanta confusão?
OUTRO PROFESSOR – sei lá, Nat
(Natanael), cada um tem um jeito de ser. É bom para a escola de engenharia, faz
propaganda, deixe vazar.
NATANAEL – fale você então com o
reitor, organize a visita, vê se não vão quebrar os laboratórios. Pegue o Dan
(Daniel) e o Roberval, chame os guardas, toca pra frente.
Dias depois, lá vai o grupo.
Roberval vai guiando.
ROBERVAL – por aqui, vamos lá nos
fundos.
JORNALISTA (muito nervosa e excitada,
agradecida por a terem deixado fazer parte) – o laboratório é grande?
ROBERVAL – como é o nome da senhora?
JORNALISTA – Gina.
ROBERVAL – Gina?
GINA – é, Gina.
ROBERVAL – Dona Gina (pareceu outra
coisa, as pessoas riram um pouco, disfarçaram), é médio, nem grande nem pequeno
(mais risos).
JORNALISTA 2 – eu pensava que esses
laboratórios eram enormes.
ROBERVAL – não, nem tanto, mas não
chegamos de pronto à Bomba H, começamos com a Bomba A.
Ao redor as pessoas balançam as
cabeças em assentimento.
JORNALISTA 3 – é lógico, de A até H.
JORNALISTA 4 – pretendem avançar?
ROBERVAL – claro, isso é só o começo.
A emoção toma os presentes, o Maranhão
dando uma lição ao Brasil e ao mundo.
ROBERVAL – já estamos muito além da H,
já chegamos à N.
GINA – Bomba N, caramba! De nêutrons!
ROBERVAL (sem entender) – claro, bomba
N, depois vamos pra frente, não vamos esmorecer.
Os jornalistas brasileiros da comitiva
incham de orgulho, os estrangeiros sussurram pasmados. A comitiva avança, chega
a uma sala, Roberval pede ao guarda para abrir. Entram, não há ogivas nem nada.
JORNALISTA (à socapa) – tão compacta
assim? Está em alguma bancada?
ROBERVAL (entrando e se dirigindo à
bancada) – sim, lógico, aqui está ela (vê-se uma bomba de irrigação).
Serra, sábado, 31 de outubro de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário