Romântica
Falsificação
Conn Iggulden escreveu tanto O
Imperador (sobre Caio Júlio César) do qual falarei, quanto O
Conquistador (sobre Temujin, Gêngis Kahn) que estou lendo, ambos em
quatro volumes. Em termos de trabalho é um portento, bastante volumoso, mas em
termos de “romance histórico” é falsificação.
Tudo tem coisas boas e ruins, vejamos as
boas.
O LIVRO
TÍTULO
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PÁGINAS
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VOL
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PUBLICAÇÃO ORIGINAL
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PUBLICAÇÃO BRASIL
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Os Portões de Roma
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377
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1
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2003
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2006, 6ª edição
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A Morte dos Reis
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501
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2
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2004
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2006, 2ª
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Campo de Espadas
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487
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3
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2005
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2006, 2ª
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Os Deuses da Guerra
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416
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4
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2006
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2011, 4ª
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TOTAL
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1.781 PÁGINAS
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É obra extraordinária por qualquer medida.
Demorado para ler, muito mais para escrever.
Sei por experiência que cada página escrita
(vou pensando enquanto vou escrevendo) significa 40 minutos, para ele 40
minutos/página x 1.800 páginas = 72 mil minutos, aproximadamente 1,2 mil horas
ou 150 dias de oito horas, direto, fora as pesquisas. Naturalmente, com as
atividades intercaladas demorou vários anos, você pode ver acima que o primeiro
foi publicado em 2003 na Inglaterra e o mais recente em 2006, quatro anos, o
primeiro tendo sido escrito provavelmente em 2002. Enfim, gastou muito tempo,
mesmo com auxílio de pesquisadores, fora os anos de preparação mental, etc.
FALSIFICAÇÃO DOS PERSONAGENS
PERSONAGEM
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VIDA (a.C.)
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FALSIFICAÇÃO
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Caio Júlio Cesar
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100 a 44, foi imperator (chefe do exército)
e não imperador.
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Iggulden o faz participar da batalha de
Pompeu Magno contra Espártaco (conhecida como Guerra dos Escravos, Terceira
Guerra Servil, Guerra dos Gladiadores; César teria 30 anos), o que não está
comprovado.
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Espártaco
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120 a 70
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Liderou 100 mil escravos e gladiadores, mas
no livro aparecem quantidades variadas.
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Caio Mário
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Talvez 150 a 86
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Iggulden fá-lo morrer nos muros de Roma,
assassinado por Sila e seus soldados infiltrados durante a guerra civil. Na
realidade ele fugiu para a África e voltou. Fê-lo tio de César, quando a
esposa dele é que foi tia (Júlia Cesaris, - a 69).
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Marco Junior Brutus
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85 a 42: Um dos assassinos de César, foi
adotado por ele (o livro Contos e Lendas, Heróis e Vilões da Roma Antiga,
Jean-Pierre Andrevon, São Paulo, Cia. Das Letras, 2004, original de 2001,
página 160, diz “Outro vínculo prendia esse jovem a César: É filho seu, que
ele teve de uma primeira e breve união com uma jovem romana...”).
Naturalmente os filhos naturais eram adotados.
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Fê-lo contemporâneo e amigo de César, de
mesma idade aproximada, sendo de fato 15 anos mais novo. No livro de Iggulden
é filho de Servília (realmente amante de César até o fim da vida).
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Servília
Cepião
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112 a 42, 12 anos mais velha que César, foi
sua amante, morreu dois anos depois dele, com 70 anos entre datas.
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Aparece como dona de prostíbulo, 15 anos
mais velha que César, no final conspirando pela morte dele (provavelmente
verdadeiro, em razão de alguma rejeição e ao filho dela e dele, Brutus).
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Lúcio Cornélio Sila
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138 a 78: morreu de cirrose no campo.
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Fá-lo morrer assassinado por fictício escravo
de César.
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Cornélia Cina
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94 a 68: mais nova que César seis anos, tem
Júlia com ele e morreu aos 26 anos no parto de menino natimorto.
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Ela é morta na vila de campo de César por
assassinos contratados. É mais velha que César vários anos.
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Marco Licínio Crasso
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115 a 53, quando o pai de César morreu aos
seus 14 anos teria 29, não era tão mais velho. Homem riquíssimo.
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Aparece como general fracassado, mas a
história da Wikipédia diz que foi ele que venceu as tropas de Espártaco em
71.
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Cneu Pompeu, Magno
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106 a 48, apenas seis anos mais velho que
César, casou-se com a filha deste, Júlia, em 60, com 46 anos.
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Aparece como tendo 15 anos ou mais que
César.
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Cleópatra VII
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69 a 30, quando César morreu em 44 tinha
25. Teve com ele o filho Cesário, morto por Otaviano em seguida.
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Caio Júlio Cesar Otaviano, Augusto
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63 a.C. a 14 d.C., quando César morreu em
44 teria 19 anos, foi adotado por este. Foi realmente o primeiro imperador em
27.
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Filho de Átia, sobrinha (que aparece como
sendo mulher pobre) de César. O autor o coloca participando da Guerra da
Gália de 58 a 51, quando teria apenas cinco a 12 anos.
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Marco Antônio
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83 a 30: 17 anos mais novo que César.
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Pompéia Sila
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Neta de Sila, o mesmo que queria matá-lo
anos antes, casou-se com ela em 67, repudiando-a depois.
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Calpúrnia Pisão
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77 a – (casou-se com César em 59).
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O que penso disso é que se você torcer bastante, o
liquidificador que tem pás e o cortador de grama que também tem pás parecerão
os mesmos sob a “liberdade poética”.
Isso não é história, história é a BUSCA da verdade
(embora como racionais nunca cheguemos a atingi-la totalmente). Pelo menos a
busca e não a subversão. Pode-se nos “romances históricos” interpolar entre os
fatos conhecidos, mas não se pode distorcê-los. É errado fazer assim, porque
esta geração de Internet, deslocada das buscas mais profundas, acreditará,
sendo depois difícil desfazer os erros.
Esse é o lado ruim dos livros dele.
Quanto a O Conquistador sabemos menos de
Gêngis, porisso pode parecer verdadeiro lá.
Serra, domingo, 08 de abril de 2012.
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