O Que Eles Chamaram
de Minhas Doideiras
Lá no meu serviço desde 1984 - ao
longo dos 23 anos no Fisco - cuidaram de espalhar a fama de eu ser “louco”,
“maluco”, e por outros tantos anos isso me incomodou. Por quê eu seria maluco?
Então fui investigar e concluí que durante esse mesmo tempo fiz enfrentamento
de quase todos os chefes em nome da liberdade, tanto minha quanto dos outros.
Houve um fiscal que no dizer do povo
“tacou fogo” num posto fiscal de madeira dos muitos existentes em Linhares.
Outro, tendo pedido ao motorista para parar e ele não o fazendo atirou no pneu
do carro. Mais um levava a arma e ficava atirando nos morros lá em Santa Cruz.
Um, que morreu, levava potes e potes de água mineral para tomar banho com ela e
não usava garfo, só colher, pois dizia haver germes entre os dentes daquele
utensílio, além de levar sua alimentação lacrada em isopor e em plástico. Muitos
portavam armas, até três; B, que ameaçou me matar, quando brigamos levou três. Um
socou a cara de um chefe de fiscalização porque este bateu no carro do filho
dele. Os chefes vivem colocando a torto e a direito os fiscais na corregedoria,
tendo ou não motivo. Um fazia sexo com uma colega dentro do salão do posto e
aquele mesmo B expunha o pênis no mesmo posto lá em Pedro Canário. Um dos que
me chamou de maluco é o WV pego com José Ignácio Ferreira nas maracutaias
durante o governo deste. Esse WV junto com outros tinha um escritório para
representar os cafeicultores nas bandidagens, sem falar dos inúmeros que
enriqueceram com tramóias. Um ficava soltando bombinhas “cabeça de nego” em
Pequiá perto dos alojamentos onde dormíamos, por apelido “pudim de cachaça”. E
assim discorreríamos horas e horas contando os casos dos mais estranhos se
retiníssemos boa parte dos fiscais num lugar, aquela parte que conhece mais a
fundo nosso meio.
Nunca fiz nada disso.
Como já falei tantas vezes, não bato
em mulheres e crianças, não jogo (exceto na loteria muito esporadicamente, para
ver se ajudo meus filhos), não participo de falcatruas, não sonego o IR, não
paro em fila dupla, não depredo telefone (embora já tenha ficado irado e batido
com os públicos no gancho, especialmente quando engoliam fichas), não destruo
propriedade pública ou privada e assim por diante.
Então, por quê tenho fama de doido?
Raciocinei poder advir a fama de eu
ter enfrentado as chefias, o que a maioria raramente ou nunca faz, devendo,
portanto, a liberdade aos que o fazem. Dos secretários para baixo enfrentei
todo tipo de gente. Não que eu seja especialmente corajoso, de jeito nenhum, é
apenas a ira e a revolta contra os desmandos. Eles chamam de doideira minha
audácia, minha ousadia irrefletida, meus impulsos contra os ditadores e a
tirania.
E isso é motivo para pensarmos que a
verdadeira doideira corre solta por aí nas classes e categorias sem que ninguém
tenha investigado e contado; que, por outro lado, os supostos malucos são os
que enfrentam; e ainda, que as pessoas não são muito boas em indicar os
acontecimentos, pois lhes falta a capacidade de pensar e identificar com
precisão.
Vitória, quinta-feira, 29 de março de
2007.
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