A Baixa Cristianização Legada por Espanha e Portugal
No já citado livro de
Femenick, página 44, ele diz:
“Espanha e Portugal,
embora detentores das colônias e do comércio, não foram os países mais
beneficiados pelos descobrimentos. A incapacidade de suas burguesias em
ultrapassarem a fase mercantil e chegar à industrialização somente se explica
pela facilidade com que obtinham ouro e prata em suas operações de descoberta e
saque. É bem mais fácil e cômodo descobrir ou se apossar de riquezas do que de
produzi-las. Talvez por seus dirigentes terem pensado assim, Portugal e Espanha
permaneceram como, ‘depois da Polônia, os dois países mais miseráveis da
Europa’.
“Os metais preciosos
retirados da América tinham na Península Ibérica não o seu ponto de destino final
mas um entreposto para redistribuição na Europa. O ouro e a prata da América
simplesmente passavam por Portugal e Espanha pois, tão logo chegavam nesses
países, eram remetidos para outras nações européias, em troca de mercadorias
manufaturadas e não produzidas na península ibérica”.
Já escrevi sobre
isso, bem como outros antes de mim, talvez.
Podemos ir mais fundo
na análise.
Ouro, prata, platina
e pedras “preciosas” tem sentido de duração além da vida humana: em tese
durariam “para sempre”. A burguesia – como antes os nobres na Idade Média e os
patrícios na Antiguidade – aprecia isso, depende disso; as burguesinhas querem
diamantes e ouro. Para esposas e filhas, quando não para filhos e para si
mesmos os burgueses ambicionavam o ouro e faziam “seus” operários trabalharem
16 horas por dia para produzir os objetos desejados pelos detentores, Portugal
e Espanha, que por sua vez faziam “seus” operários virem de navio atacar as
Américas, aprisionando índios e negros, escravizando-os, fazendo-os morrer nas
minas para escavar o que era “de graça”. Por uma ilusão - no conjunto o ouro e
as pedras - os burgueses da Inglaterra e da França, bem como de outros países
sem possessões, estimularam a produção real e o desenvolvimento de sua
sócioeconomia PRODUTIVORGANIZATIVA, embasando sua coletividade de
produçãorganização. Piratas os portugueses e piratas os espanhóis tanto quanto
foram piratas ingleses e piratas os franceses. Todos piratas, todos sujos
quando assim entenderam; depois, todos puros como as prostitutas arrependidas.
A diferença é que os
piratas ingleses e os piratas franceses e outros piratas europeus não podendo
viver de ilusões e do trabalho alheio foram obrigados a inventar e com isso
distribuir em certa medida para o “lado de baixo” as benesses do
desenvolvimento. No caso dos ibéricos não passava “de cima para baixo”, só “de
baixo para cima”, do povo para as elites como trabalho forçado: eis aí a
questão da baixa cristianização, pois a mensagem de Cristo não passou inteira,
fragmentou-se nos superinteresses das elites ibéricas, o que foi passado às
colônias e depois às elites endógenas ibero-americanas independentes, entre as
quais as do Brasil. Não vem dos negros essa preguiça congênita daqui, vem dos
ibéricos oportunistas.
Vitória, sábado, 24 de
fevereiro de 2007.
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