segunda-feira, 18 de junho de 2018


Os Ônibus dos Escravos

 

Enquanto morei no bairro Chácara Parreiral na Serra durante quatro anos tomei muitos ônibus do TRANSCOL (Transporte Coletivo, inventado na época em que Albuíno Azeredo era Secretário dos Transportes no Espírito Santo antes de ser governador), então sei.

Mais recentemente tomei um coletivo desses para ir a Vila Velha e fiquei reparando. Quase nunca se pode ir sentado nos que circulam nos bairros das cidades-dormitório da Grande Vitória, independente do lugar onde se pegue os ônibus, pois sempre estão atulhados de gente, trabalhadores circulando. É infernal, gente em todas as cadeiras e muitas em pé, mais do que compete, todas apertadas. Por comparação, os coletivos de Vitória quase sempre têm lugar para sentar ou a gente consegue logo em seguida. São verdes, enquanto os outros são amarelos ou azuis.

Então, me veio à mente a idéia de que toda aquela gente ainda está sendo escravizada pelo sistema. Como diz a Rita Lee são escravos independentes. As condições são péssimas, mas ninguém reclama, nem os partidos supostamente revolucionários: onde deveriam ficar 42 pessoas sentados há mais de 100 cotidianamente, necessitando depois de oito ou dez horas de trabalho mais duas conduções para chegar a casa, sem falar nas outras duas para vir. Isso deveria ser retratado em livro com urgência, com estatísticas de uso, fotos e vários outros estudos.

Vitória, domingo, 07 de janeiro de 2007.

 

ESCRAVOS DO BALACOBACO

Balacobaco
Rita Lee
 
Acordo às 5 da matina
Reclamando da rotina
Dou um trato na faxina
Vida dura de heroína

Minha cara de caveira
Vai abrir a geladeira
Esqueci de fazer feira
Vou fuçar lá na lixeira

Uma espinha pro gatinho
Pro cachorro um ossinho
Requentar o cafezinho
E sair apressadinho

Todo dia atrasada
Já estou acostumada
Condução sempre lotada
Vida dura de empregada

Refrão:
Pára o mundo
que eu quero descer
Tem muito vagabundo
atrás do meu jabaculê
A vida é uma sinuca
Mas confio no meu taco
Meu borogodó
é do Balacobaco
Do Balacobaco

Minha patroa é estranha
Passa o dia só na cama
O marido deve grana
A mais velha é piranha

A do meio é patricinha
O mais novo é mocinha
Meu lugar é na cozinha
Vida dura de fuinha

Motorista xavecando
Jardineiro azarando
Porteiro se assanhando
Ê, vou logo avisando

Meu amor é pra quem pode
Quem não pode se sacode
Pode amarrar seu bode
Com a minha cabra ninguém fode

Repete refrão

Sirvo a janta e vou embora
Já passou da minha hora
Abusando é que demora
Vem a chuva e piora

Caminhando na calçada
Medo de ser assaltada
Medo de ser seqüestrada
Medo de ser estuprada

Sou escrava independente
Ganho menos que indigente
Não posso ficar doente
Amanhã tô no batente

Vou rezar para Jesus
aliviar a minha cruz
Meu buraco não tem luz
Vida dura de avestruz

Repete refrão

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