Os Ônibus dos
Escravos
Enquanto morei no bairro Chácara
Parreiral na Serra durante quatro anos tomei muitos ônibus do TRANSCOL
(Transporte Coletivo, inventado na época em que Albuíno Azeredo era Secretário
dos Transportes no Espírito Santo antes de ser governador), então sei.
Mais recentemente tomei um coletivo
desses para ir a Vila Velha e fiquei reparando. Quase nunca se pode ir sentado
nos que circulam nos bairros das cidades-dormitório da Grande Vitória,
independente do lugar onde se pegue os ônibus, pois sempre estão atulhados de
gente, trabalhadores circulando. É infernal, gente em todas as cadeiras e
muitas em pé, mais do que compete, todas apertadas. Por comparação, os
coletivos de Vitória quase sempre têm lugar para sentar ou a gente consegue
logo em seguida. São verdes, enquanto os outros são amarelos ou azuis.
Então, me veio à mente a idéia de que
toda aquela gente ainda está sendo escravizada pelo sistema. Como diz a Rita
Lee são escravos independentes. As condições são péssimas, mas ninguém reclama,
nem os partidos supostamente revolucionários: onde deveriam ficar 42 pessoas sentados
há mais de 100 cotidianamente, necessitando depois de oito ou dez horas de
trabalho mais duas conduções para chegar a casa, sem falar nas outras duas para
vir. Isso deveria ser retratado em livro com urgência, com estatísticas de uso,
fotos e vários outros estudos.
Vitória, domingo, 07 de janeiro de
2007.
ESCRAVOS
DO BALACOBACO
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Balacobaco
Rita Lee
Acordo às 5 da
matina
Reclamando da rotina Dou um trato na faxina Vida dura de heroína Minha cara de caveira Vai abrir a geladeira Esqueci de fazer feira Vou fuçar lá na lixeira Uma espinha pro gatinho Pro cachorro um ossinho Requentar o cafezinho E sair apressadinho Todo dia atrasada Já estou acostumada Condução sempre lotada Vida dura de empregada Refrão: Pára o mundo que eu quero descer Tem muito vagabundo atrás do meu jabaculê A vida é uma sinuca Mas confio no meu taco Meu borogodó é do Balacobaco Do Balacobaco Minha patroa é estranha Passa o dia só na cama O marido deve grana A mais velha é piranha A do meio é patricinha O mais novo é mocinha Meu lugar é na cozinha Vida dura de fuinha Motorista xavecando Jardineiro azarando Porteiro se assanhando Ê, vou logo avisando Meu amor é pra quem pode Quem não pode se sacode Pode amarrar seu bode Com a minha cabra ninguém fode Repete refrão Sirvo a janta e vou embora Já passou da minha hora Abusando é que demora Vem a chuva e piora Caminhando na calçada Medo de ser assaltada Medo de ser seqüestrada Medo de ser estuprada Sou escrava independente Ganho menos que indigente Não posso ficar doente Amanhã tô no batente Vou rezar para Jesus aliviar a minha cruz Meu buraco não tem luz Vida dura de avestruz Repete refrão |
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