A Sobrevivência do Mentiroso Mais Apto

 

Um dos meus amigos é paranoico (ou pelo menos penso assim; talvez ele pense o mesmo de mim), mas está vivinho da silva, mora e trabalha em Brasília, é uma barrica, gordinho e baixinho, mas vai muito bem (obrigado), nunca sofreu do coração, ao passo que eu fui operado aos 49, há 15 anos, logo depois que me disseram que ele estava com “uns problemas no peito”.

Os paranoicos sobrevivem.

Os mentirosos sobrevivem.

Todos do DdM Dicionário do Mal (= NATURA) sobrevivem, são os vagões que a locomotiva a muito custo leva adiante para o futuro. O problema todo é que, embora possam ser identificados, não podem (graças a Deus!) ser mortos, porque um pode ser covarde e honesto, outro mentiroso e benemérito da coletividade – os dons, os talentos, as aptidões não estão todas num sujeito, excluídas as incompetências e malignidades, pelo contrário, elas se misturam no indivíduo: quase em todos há tanto o DdM quanto o DdB Dicionário do Bem: as incapacidades e doenças físicas e mentais e capacidades e competências se distribuem em todos desigualmente.

Se houvesse um programa depurador, tudo voltaria em seguida, pois é expresso na Natureza o que está potencialmente como permissão em Deus e seus moldes perfeitos e indeclináveis, fazendo de cada pessoa e cada ambiente, cada planeta, expressão única com seus temperos de formação e desenvolvimento, zilhões de entes todos diferentes, diversidades a equilibrar, de modo que possamos prosseguir para o futuro.

Os mentirosos adquirem aptidão.

Sobre cada construção anterior há aprimoramento para as novas encarnações mentais, para cada operador de quereres, “eu quero”, “tu queres”, “ele quer”, etc. As mentiras vão se desenvolvendo, alcançando novas alturas: um mentiroso qualificado de nossos tempos poderia nos enganar facilmente (eles fazem isso conosco!). Atingem extraordinária competência e isso os ajuda a sobreviver e a deixar descendência.

Enfim, o mundo está cheio de sobreviventes.

Você pode pegar o mentiroso mais eficiente do mundo (veja como o Congresso brasileiro está competindo ferozmente para fazer sobreviver os safados e as safadezas) e dentro dele haverá qualidades, algo de bom de que o mundo necessita.

É questão difícil.

Vitória, quarta-feira, 20 de junho de 2018.

GAVA.