terça-feira, 22 de maio de 2018


Cabral Inteiro e Vasco Pela Metade

 

O livro de Ana Adams O Descobrimento das Índias (O Diário da Viagem de Vasco da Gama), Rio de Janeiro, Objetiva, 1998, conta na página 126: “A quarta armada, cuja partida estava marcada para os primeiros meses de 1502, ficou conhecida como a ‘Esquadra da Vingança’. Cabral fora designado como subcomandante desta frota. Mas não aceitou o cargo: depois de seus feitos na Índia, se julgava no direito de exigir a chefia de qualquer missão. A recusa em ocupar o cargo de subchefe da ‘Esquadra da Vingança’ lhe custaria caro: Cabral caiu em desgraça com o rei D. Manuel e viveu no ostracismo, sem jamais retornar à corte, até sua morte, em 1520”. Já Vasco da Gama foi bem diferente. Na volta da Índia como descobridor recebeu uma “renda perpétua de 400 mil-réis anuais”, ao passo que a Cabral foram dados apenas 30 mil, menos de 1/10.

Na página seguinte o livro diz que “em 3 de outubro de 1502 Vasco da Gama cometeria o ato mais atroz de sua carreira”: “Capturado pelos portugueses, o capitão do Mery, um muçulmano chamado Joar Fachin, não ofereceu resistência: além dos 10 mil ducados em mercadoria, ele também entregou os 12 mil ducados em dinheiro que seus tripulantes traziam. Mas esse resgate não foi o bastante para salvá-lo, nem a seus passageiros: depois de ordenar que seus soldados se apossassem de todos os bens pessoais dos peregrinos – as jóias das mulheres e as vestes de seda dos passageiros mais ricos -, Vasco da Gama determinou que o navio fosse incendiado, com toda a tripulação a bordo. De acordo com o relato estarrecido do escrivão português Tomé Lopes – testemunha ocular da cena, ‘da qual me lembrarei para o resto de minha vida’ -, 380 homens, mulheres, velhos e crianças foram mortos naquela manhã”.

E na página 129: “De todo modo, no dia 31 de outubro de 1502, encerrado o ultimato Vasco da Gama mandou cortar os pés, as mãos, os narizes e as orelhas dos prisioneiros. A seguir, ‘com paus lhes mandou dar’ nos dentes ‘que na boca lhes meteram por dentro’ a fim de que ‘com eles não soltassem as cordas’. Pouco mais tarde, enquanto as vítimas agonizavam, entre urros de dor e ofensas aos portugueses, Gama determinou que fossem todos enforcados nos mastros de seus próprios zambucos”.

Cabral só não foi por não ter sido nomeado chefe; mas, não tendo ido não saberemos se cometeria as atrocidades ou se seria menos ofensivo. Em todo caso, foi Vasco da Gama quem fez, daí em colocar a estátua inteira de Cabral e a de Vasco só pela metade, como para Afonso de Albuquerque (leia o artigo Albuquerque o Terrível no Livro 185). Veja em anexo a metade dedicada a Vasco em Uma História Universal em Banda Desenhada, 5, Vasco da Gama/Afonso de Albuquerque, Lisboa, Dom Quixote, 1982.

Quando abordam as vidas dos “grandes” as pessoas tendem a perdoar certos gestos que fazem parte da biografia toda; isso não deve acontecer, pois seria distorção. Também não convém frisar demais e esquecer os grandes atos. É bom ser equilibrado.

Vitória, segunda-feira, 30 de outubro de 2006.

 

CABRAL

Cabral, Pedro Álvares (c. 1460-c. 1520), navegador português, nasceu provavelmente em Belmonte e morreu em Santarém. Muito pouco é conhecido de sua vida, antes da viagem à Índia, quando usava o nome Gouveia, de sua mãe Isabel Gouveia, e não o de Cabral. Não há nenhum registro de viagens anteriores ou posteriores à de 1500. Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.
Culver Pictures
Pedro Álvares Cabral
Em 1500, o navegante português Pedro Álvares Cabral realizou uma expedição às Índias Orientais com uma frota de 13 barcos e mil homens a serviço do rei dom Manuel, o Venturoso. Há controvérsias quanto à sua intenção, mas o fato é que durante sua viagem chegou à América do Sul, mais concretamente ao Brasil (sem saber, no entanto, que um explorador espanhol fizera essa mesma viagem três meses antes), cujas terras reclamou para Portugal. Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.

VASCO DA GAMA

Gama, Vasco da (1469-1524), explorador e navegante português, primeiro europeu que chegou à Índia pela costa da África, dando por finalizada a busca que Henrique, o Navegador, começara 80 anos antes.
Depois de ter feito seu aprendizado marítimo como tripulante de naus francesas, Vasco da Gama foi chamado pelo rei João II para comandar a expedição que completaria a façanha de Bartolomeu Dias, que superara o Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança. Partiu, já no reinado de Manuel I, em julho de 1497, à frente de quatro embarcações. Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.
VASCO DA GAMA
Célebre navegador português, nascido em Sines (1469-1524), a quem D. Manuel I confiou o comando da frota que em 8 de Julho de 1497 largou do Tejo em demanda da Índia, e que se compunha de quatro pequenos navios: S. Gabriel, S. Rafael, Bérrio e S. Miguel, (este último não passou da baía de S. Brás, onde foi queimado).
ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA
Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro,
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.
Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.
Fernando Pessoa, Mensagem
VASCO DA GAMA
(Descobridor e guerreiro, 1468 (?) – 1524)
QUANDO TUDO ACONTECEU...
1468 (?): Nascimento, talvez em Sines. Filho segundo do fidalgo Estêvão da Gama - 1497: A 8 de Julho parte de Lisboa comandando frota que irá descobrir o caminho marítimo para a Índia. A 18 de Novembro dobra o Cabo da Boa Esperança. - 1498: A 20 de Maio chega a Calecute e enfrenta a hostilidade do respectivo Samorim. A 5 de Outubro inicia a viagem de regresso . - 1499: Arriba a Lisboa em fins de Agosto; é recebido triunfalmente. - 1502/04: Segunda viagem à Índia. Represálias contra o Samorim de Calecute

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