Biografias dos
Desconhecidos
Osvaldo Bravin foi motorista do posto
de gasolina da família em Linhares e ganhando o equivalente 700 ou 800 ou até
1.000 reais de agora disse um dia que “queria ser pobre só para ver como é que
era”. Ele passava pelo menos uma vez por dia – às vezes até sábado e domingo,
nas vésperas de alta – entre Linhares e Vitória, onde ficam as bases da
Petrobrás e das companhias fornecedora, meu pai desde o início ligado à
bandeira da Texaco. Às vezes eu me divertia com as coisas que dizia, morreu
gordo de enfarto, creio.
A Internet não responde nada sobre
ele, que é um desses do incontável contingente de desconhecidos. Mas agora
existe memória nas máquinas para quase tudo, razão pela qual essa quantidade de
gente que poderia se interessar estaria encarregada de mapear para o futuro as
vidas de todos e cada um dos seres humanos, não só por respeito aos que viveram
como porque isso pode ser útil para compor personagens variadíssimos no cinema
e em toda parte. Evidentemente a vida é muito mais criativa que a arte, porque
conta com o livre-querer ou livre-arbítrio de muito mais gente que o
autor-artista isolado.
É como o Soldado Desconhecido, que
ninguém conhece, constituindo um gesto genérico para pessoas que foram de carne
e osso e não puderam ser identificadas. Todas as criaturas que passaram pela
Terra com seu trabalho mereciam um pouquinho mais.
Vitória, sábado, 31 de dezembro de
2005.
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