sábado, 18 de novembro de 2017


Descortinando Amplos Horizontes

 

                            Quando eu era criança em Cachoeiro de Itapemirim, antes de 1963 (porque saímos de lá em 18 de agosto daquele ano), quando tinha menos de nove anos meu pai - que era motorista de caminhão próprio - me levava na boléia para alguns passeios, pois meu irmão mais novo era muito jovem (até quatro no máximo) e meu irmão mais velho seguinte, o segundo, tinha até 17 anos no máximo, já não faria isso. Então, por anos seguidos era eu que ia.

                            MAPA DE CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM, ESPÍRITO SANTO


Cachoeiro é, como se diz, muito “marrento”, “cata marra”, denomina-se “capital secreta do mundo”, acredita-se especial, é “sebento”, orgulhoso de sua cultura. Tem menos de 200 mil habitantes agora, mas em 1963 era realmente pequena cidade, exceto pelos padrões do ES. Situada nos vales da região cheia de montanhas de granito e mármore (que agora explora e exporta intensa e fervorosamente), passa por inacreditáveis temporais de raios. A cidade desenvolveu-se nesses fundos, de forma que não víamos muito, não descortinávamos os grandes espaços que vi depois em Linhares, com a correlata liberdade de que já falei.

Em Cachoeiro vivíamos fechados.

Numa das vezes papai me levou para ver as grandes manilhas que ele trazia para o IBC, Instituto Brasileiro do Café, situado no bairro que depois levou seu nome (o de nº. 33 no mapa acima), manilhas que tinham o dobro da minha altura, uma coisa impressionante. De uma outra vez fomos ao cocuruto de um morro que estava sendo aplainado por imensas máquinas para a construção de uma escola: de lá descortinei grandes horizontes e fiquei chocado com a largura do mundo, que imenso que ele era!

É assim, as experiências das crianças as marcam para sempre, com efeitos benéficos (como os meus) ou nefastos (como de outras, que sofrem). Não digo que sigam os passos do meu pai e da minha mãe, porque cada caso é diferente, mas isso de levar os filhos é muito importante, o que peço pelas crianças que ainda são e pelas que vão ser.

Vitória, agosto de 2005.

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