domingo, 22 de outubro de 2017


O Correio da Empregada e o Silêncio Comprado


 

                            Pensei que as empregadas domésticas no Brasil constituem isso que chamei “correio da empregada”, a falação das coisas do lar; porque, como de outro modo se disseminariam as notícias? Certamente os de casa não falam das coisas sensíveis que os tocam e não deveriam mesmo ser conhecidas – e como não existe outra fonte, devem ser elas, pois a comunidade fatalmente fica sabendo de tudo ou quase tudo (fora aquilo que foi somente pensado e constitui mesmo segredo).

                            Diariamente há a “jornalização”, digamos assim, a troca das notícias das patroas e dos patrões, e dos filhos e filhas. Contudo, como sabemos da soma zero 50/50, metade nada dirá, exceto em tempos de pressões e sobre pressões, quando até 97,5 % comunicarão algo; mesmo nessa era de dificuldades gerais e falação indiscriminada 2,5 % ou 1/40 nada dirá. Esses são mais preciosos. A jóia, o objeto raro, a pessoa de maior nobreza custa caro ter ou manter. Neste caso são os mordomos e as governantas, gerentes do silêncio; esses custam caro e não é à toa, porque são extraídos (ou deveriam ser) daqueles que sabem ficar em silêncio protetor. Porisso só os ricos podem pagá-los e valem ouro. São treinados, são adestrados longamente, existem escolas (raramente no Brasil) para isso.

IMAGEM NÃO É TUDO (lábios fechados, elegância, tranqüilidade, dignidade, postura – tudo isso custa caro, mas realmente vale ouro, para quem pode pagar)






Porque, imagine que suas coisas, mesmo as triviais e inocentes, sejam contadas: da verdade sai muita mentira e muita invencionice, já que a verdade se mistura com as interpretações e se confronta com todos os outros dados, constituindo depois uma árvore de falsificações.
Vitória, segunda-feira, 08 de agosto de 2005.

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