O Correio
da Empregada e o Silêncio Comprado
Pensei
que as empregadas domésticas no Brasil constituem isso que chamei “correio da
empregada”, a falação das coisas do lar; porque, como de outro modo se
disseminariam as notícias? Certamente os de casa não falam das coisas sensíveis
que os tocam e não deveriam mesmo ser conhecidas – e como não existe outra
fonte, devem ser elas, pois a comunidade fatalmente fica sabendo de tudo ou
quase tudo (fora aquilo que foi somente pensado e constitui mesmo segredo).
Diariamente há a “jornalização”,
digamos assim, a troca das notícias das patroas e dos patrões, e dos filhos e
filhas. Contudo, como sabemos da soma zero 50/50, metade nada dirá, exceto em
tempos de pressões e sobre pressões, quando até 97,5 % comunicarão algo; mesmo
nessa era de dificuldades gerais e falação indiscriminada 2,5 % ou 1/40 nada
dirá. Esses são mais preciosos. A jóia, o objeto raro, a pessoa de maior
nobreza custa caro ter ou manter. Neste caso são os mordomos e as governantas,
gerentes do silêncio; esses custam caro e não é à toa, porque são extraídos (ou
deveriam ser) daqueles que sabem ficar em silêncio protetor. Porisso só os
ricos podem pagá-los e valem ouro. São treinados, são adestrados longamente,
existem escolas (raramente no Brasil) para isso.
IMAGEM NÃO É TUDO (lábios fechados,
elegância, tranqüilidade, dignidade, postura – tudo isso custa caro, mas
realmente vale ouro, para quem pode pagar)
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Porque, imagine que
suas coisas, mesmo as triviais e inocentes, sejam contadas: da verdade sai
muita mentira e muita invencionice, já que a verdade se mistura com as
interpretações e se confronta com todos os outros dados, constituindo depois
uma árvore de falsificações.
Vitória,
segunda-feira, 08 de agosto de 2005.
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