quarta-feira, 20 de setembro de 2017


O Pontífice Perini, os Conflitos da Língua e a Língua Padrão

 

                            O já citado Mário A. Perini de Sofrendo a Gramática diz no livro de que tenho o quarto capítulo (As Duas Línguas do Brasil): “Imagine a pessoa falando, e verá que sua fala é perfeitamente natural. Mas escrita ela choca um pouco, porque está cheia de traços que não costumamos encontrar em textos escritos: ”, negrito e itálico meus.

                            No decorrer do capítulo ele fala da língua padrão.

                            Perini promove a aceitação do povo pelas elites e vive-versa, dizendo que há duas línguas no Brasil, o português, que é a língua padrão escrita (diríamos que das elites), e o vernáculo, que é a língua materna (diríamos que do povo). Constrói uma ponte ou pelo menos a possibilita, assim como João Gilberto fez muito tempo antes na música unindo o popular com o erudito na bossa nova, como já falei tantas vezes. É um pontífice, um construtor de pontes, que bem devem ser construídas.

                            A verdade é esta: as elites desprezam o falar do povo, como desprezam quase tudo do povo BRASILEIRO. O povo das elites brasileiras é qualquer outro, menos o daqui. Porisso as elites AQUI PRESENTES (mas não daqui) advogam outros povos como solução, seja o americano sejam os europeus ou até o japonês, menos o daqui, do qual tem ojeriza, ou aversão ou asco.

                            E da passagem acima frisada é possível tirar que existem as linguagens naturais - que vem da Natureza, no caso a psicológica - que são sempre as dos povos; e as linguagens artificiais, que são apuradas por qualquer psicologia nacional. Como já sabemos do modelo, geografia é futuro, guerra, espaço, povo; história é passado, paz, tempo, elites – e bem podemos ver que os primeiros sempre substituem as últimas. Então, a língua-do-povo, o vernáculo, como ele chama, substituirá o português (é assim que são inventadas as línguas novas) no Brasil.

                            Os conflitos que a língua-natural não-padronizada aponta acabarão por vencer e se instalar nos dicionários do futuro. O povo vencerá as elites, como sempre acontece, porque as elites surgem e findam e o povo persiste, ele vai ao futuro em busca de suas satisfações (que são tão grandes quanto suas insatisfações, quase todas pendentes – é porisso que ele vai ao futuro, pois só no futuro é possível satisfazer-se).

                            Vitória, sábado, 30 de abril de 2005.

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