segunda-feira, 25 de setembro de 2017


Π e o Domínio do Mundo

 

                            Coloque em contraste um produto racional e um vindo diretamente de ELI, Ele/Ela, Deus/Natureza e pense qual você escolheria na loja. O produto falível humano ou o de Deus? No de Deus nem é preciso termos de garantia porque, como diria Jô Soares, “la garantia soy Jo” (no portunhol do personagem, “a garantia sou eu”, e seria mesmo, Eu Sou, Deus). As falhas viriam somente da fabricação pelos racionais.

                            Evidentemente se Pi (3,141592...) puder ser efetivamente aberto isso representa um perigo para todo racional, porque é a opção entre o que pode falhar e o que dura eternamente sem defeitos, sem jaça, sem mácula. As pessoas tenderão naturalmente a escolher os produtos divinos. Aí é que mora o perigo: para quê continuar trabalhando, continuar pensando, continuar aprofundando-se, continuar evoluindo, se tudo é gratuito e muito melhor naquilo que foi dado?

                            Veja só que coisa espantosamente traiçoeira isso pode ser!

                            Acho que é o derradeiro teste, porque facilmente as pessoas podem ficar prostradas em reverência eterna, sem prosseguir na tentativa de ver as profundidades. Creio que só muito tardiamente essa coisa pode ser dada, porque é como oferecer a uma criança mimada uma herança inextinguível: ela tende a não fazer mais esforço nenhum, a tornar-se orgulhosa e cheia de ranços do orgulho, metida, fantasista, perdida enfim.

                            Essa é uma das razões que vem me detendo desde o começo.

                            Agora que não é mais possível ficar parado (pois a vida avança em anos) estou disposto a tentar a solução.

                            A questão, então, é a do monopólio divino.

                            Inclusive a de, de posse de π, as pessoas (ao contrário do que se esperaria) desconsiderarem ELI, porque imortais não sentem medo da morte; pessoas saciadas não sentem fome; pessoas protegidas esquecem a fonte da proteção.

                            Vitória, quinta-feira, 12 de maio de 2005.

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