A
Sombria de Kissinger
No livro de Greg Grandin, A
Sombra de Kissinger, Rio de Janeiro, Anfiteatro, 2017, o autor consegue
a proeza de falar nos malefícios perpetrados por K sem mostrar qualquer
interesse gritante em sua condenação.
Kissinger é ruim mesmo.
O
AUTOR E O LIVRO
EUA, 1962.
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K, COMO
DIZ O POVO, É RUNHE, RUNHE, RUNHE
Alemanha, 1923, em 2017 94 anos, judeu-americano,
esteve internado nos campos de concentração, tinha 16 anos quando a guerra
começou em 1939.
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Está na política desde os 27 anos em 1950,
quando formou-se, e desde 1969 com Nixon participou do domínio mundial e
orientou assassinatos na guerra e fora dela. Se você olhar o retrato do livro,
verá os olhos de uma criança que envelheceu e adquiriu poder de ofender, alguém
que (isso aconteceu) ameaçado na Casa Branca, escondeu-se debaixo do tampo da
escrivaninha, bem covarde.
Quando alçado ao poder, orientou ditaduras e
tiranos assassinos de cima abaixo, do Leste ao Oeste. Aconselhou ataques ao
Camboja e ao Laos, países neutros, sossegados e miseráveis que lutavam pela
sobrevivência – o livro é imperdível. E K foi o modelo dos que o seguiram,
dizendo o autor na página 23: “Ao fazer isso, Kissinger ofereceu a uma nova
geração de políticos um modelo de como justificar a ação de amanhã e ao mesmo
tempo ignorar a catástrofe de ontem”.
Não deixarei de dizer que há umas frases
filosóficas profundas de K no correr do texto que chegam ao âmago do universo
natural e sua relação com Deus, por exemplo, página 221: “O microcosmo contém tensão
e polaridade, a solidão do indivíduo em um mundo de significados estranhos, em
que o sentido interno total dos outros permanece sendo um enigma eterno. Ritmo
e tensão, saudade e medo caracterizam a relação do microcosmo com o macrocosmo”
[1950].
1. A polaridade do
universo é o conjunto de pares polares oposto-complementares, a tensão é a luta
dos contrários;
2. O indivíduo não
consegue ultrapassar a visão do mundo como composto de estranhezas, daí o
pânico constante que temos;
3. Os outros serão
sempre, para nós, enigma (só Deus, sendo a totalidade, consegue solucionar o
distanciamento);
4. O indivíduo sente
saudades da união, da totalidade de Deus, mas tem medo do próximo (o caminho
para solucionar isso seria, como Cristo disse, o amor).
Isso pode nem ser autenticamente dele, pode
ter absorvido do fundo cultural alemão, mas está lá, é profundo. Entrementes,
ele era amedrontado garotinho no escuro que quando cresceu juntou-se aos
bandidos valentões da vizinhança para formar uma gangue.
Vitória, quinta-feira, 21 de setembro de 2017.
GAVA.
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