segunda-feira, 21 de agosto de 2017


Mil Palmas Para Barcelona

 

                            Vi no canal pago Discovery reportagem de uma hora sobre Barcelona, A Mil Dias do Futuro. Mil dias são 2,74 anos. Depois de 1992, quando a cidade espanhola sediou as Olimpíadas, eles começaram a pensar como recuperar certa área defronte do mar, onde ficavam usinas de tratamento de água e esgoto. Em vez de simplesmente removê-las, soterraram-nas (como sugeri fosse feito em Vitória, diante da baía), colocando um piso confortável por cima, onde agora é área de lazer popular. Envolveram nove mil pessoas e naturalmente centenas de milhões a bilhões de dólares pagos a mais de 300 companhias do mundo inteiro. Virou realmente um gigantesco canteiro de obras, uma experiência enriquecedora, que tenderá a ser imitada ao infinito em volta do mundo – realmente foi bom.

                            O que ressalta disso não é somente a liderança de Barcelona, mas o fato de que as outras elites não fizeram equivalente; Barcelona ter dado esse passo crucial desnudou o despudor das elites para com o povo no mundo inteiro. Colocou-as a nu, especialmente as brasileiras, que são ordinárias e sem consideração.

                            Bastou a aquelas lá pensar e ousar um pouco e já entraram na geo-história a ser lembrada. Com muita ousadia e compromisso, empenharam milhares numa complexa operação. Aliás, vale a pena (já que a memória está fresca em documentos e provas) delinear a complexidade, seguindo as linhas duais, quer dizer, os entroncamentos ou dilemas (dois lemas, duas direções). Isso permitirá desenhar a “p” potência do feito, que é não apenas qualitativamente relevante, como também qualitativamente. Quanto as elites dos outros lugares copiam (tanto a obra e sua relevância, quanto o efeito propagandístico)? Que tipo de DIMINUIÇÃO ou redução de projeto propõe (tanto quantitativa quanto qualitativamente) na adaptação às condições locais? E com que displicência (medindo-se assim a relação que têm com seus povos) o fazem?

                            Enfim, as tarefas realizadas tornam-se metros em muitas direções e sentidos. Por quê as elites de Barcelona decidiram dar o salto? Que é que veio de trás e as empurrou a isso e o que miravam na frente? Quais as relações atuais de poder ao nível de cidade/município, estado (lá é província), nação e mundo?

                            Isso dispara muitas perguntas.

                            Vitória, quinta-feira, 23 de dezembro de 2004.

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