quarta-feira, 26 de julho de 2017


Gravitando o Modelo

 

                            Era preciso que o modelo não tivesse assumido a forma debilitante que adquirirá se for reverenciado, o que teria constituído simultaneamente um índice de maturidade e apontamento da grandeza já atingida pela humanidade. Como está colocado é certo que a dimensão explosiva levará de roldão a resistência abstrata e concreta, isto é, dos teóricos e dos práticos, em tantas linhas de condução. Fatalmente orbitarão (orbitar = GRAVITAR = GIRAR = RODAR) o modelo, isto é, gravitarão em volta dele, tomando-o como centro.

                            Visando minorar o mal que essa debilitação causará em termos reverência indevida é preciso encarregar pessoas de dentro de se porem em estado de permanente vigilância, visando impedir a idiotização dos leitores, pois o que se deseja mesmo é andar para frente. Aplausos não fazem a peça boa ou ótima, apenas reconhecem a distância entre os espectadores e o autor; uma vez é legítimo, porque algum esforço foi feito, mas a bajulação, excesso de dependência, é indevida e inoportuna, já que esquece de prosseguir. O mundo não se resolve EM NINGUÉM, nem em nada isoladamente. É uma esfera e comporta os contrários como solução também.

                            Porém, é útil construir os círculos de estudos, até para sair deles o quanto antes; teria sido estúpido evitar orbitar Newton só porque isso traria nalgum momento do futuro dependência em relação a ele – pois se ele resolveu, a solução é bem vinda. Agora, Newton certamente não era o único, nem o único grande, e ficar toda a vida em volta dele seria idiotice. O mundo É GRANDE. Devemos aproveitar a conjunção de luz e limpidez e festejar o belo dia, sem querer permanecer nele, pois existe o amanhã, graças ao Céu. O modelo é um instrumento; ninguém vive para os instrumentos, os instrumentos são usados e postos de parte quando perdem a serventia. Isso fatalmente acontecerá com o modelo PORQUE a própria utilização dele trará seu ultrapassamento. Não devemos temer: tudo é bom enquanto dura. Tolos são os que não sabem aproveitar ao máximo a duração. Sábios os que extraíram felicidade tanto da presença dela quanto de sua ausência posterior. Mais sábios ainda são os que, prevendo o aparecimento, se preparam para a extração, no caso de ela realmente poder se dar.

                            Vitória, sábado, 25 de setembro de 2004.

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