terça-feira, 20 de junho de 2017


Vestidinhos de Orgulho

 

                            Vi no Aeroporto de Vitória onde, como dizem os idiotas, estou "tirando plantão", duas pessoas passando empertigadas, como se vê em toda parte. Com carros, casas, apartamentos, ações, algum conhecimento ou poder ou qualquer gênero humano de mínimo crescimento, quase todos ficam emproados, durinhos de satisfação consigo próprios. Com um terno ou um vestido um pouco melhor quase todos se sentem superiores.

                            Os humanos não têm antigravidade, os corpos duram pouco, não decifraram pi, não teleportam, não migram no espaço, não venceram as doenças, não tem colônias em outros planetas (portanto, qualquer meteorito pode matar a todos), não clonam e não dominam a Biologia, nem reconstróem os desertos - enfim, não tem qualquer coisa de maiorzinha e não obstante são um poço sem fundo de orgulho. O título seria um bom nome de livro para retratar a marcha da empáfia humana, do orgulho, das bobeiras desmedidas, do desregramento descabido, de tudo que é excesso e abuso de gente que sequer atingiu a maioridade civilizatória. Seria interessante rastrear universalmente essas demonstrações, ocupando para isso o tempo de alunos de mestrado.

                            Evidentemente não há jeito para essas ilusões do eu. De qualquer modo o modelo colocou na soma zero dos pares polares opostos/complementares que 47,5 % estarão relativamente isentos e 2,5 % ou 1/40 totalmente isentos; e do outro lado, espelharmente, 47,5 % serão afetados, enquanto 2,5 % ou 1/40 o será completamente. Só o Um é TOTALMENTE isento na assíntota da Curva do Sino ou de Gauss ou das Distribuições Estatísticas. Não há o que fazer. Nem há como ensinar, porque a Curva do Sino será inflexível. Sempre vão existir esses orgulhosos. Mas, do lado que não é pode ser melhorada a verdadeira compreensão dos poderes extraordinários que o universo exerce. Esses que estão relativamente isentos podem compreender melhor os alcances todos. É a esses que podemos contar as visões mais amplas. Os outros patinarão nesses orgulhos babacas do SER e do TER, gastando suas vidas nessas inutilidades (que, como diz o modelo, não são inutilidades PARA ELES). É por esses que podemos fazer o esforço recompensador de explicar melhor. Os outros se satisfarão com a ignorância. O nível de aprofundamento dos orgulhosos será dado pelos produtos que conseguirem obter (carros, digamos) e o orgulho associado a eles, quer dizer, a superfície do real (que para eles será coisa absolutamente satisfatória, motivo de grande orgulho).

                            Vitória, segunda-feira, 17 de Maio de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário