Mandragorias
Na página 43 do
livro de quadrinhos Calvin e Haroldo (no original americano Calvin &
Hobbes, 1993/1995, The Days Are Just Packed), de Bill Watterson, Os Dias Estão Simplesmente Lotados,
volume II, São Paulo, Best News, 1995, há uma página sobre uma nave espacial
que suga os oceanos da Terra e depois toda a atmosfera. Salvo engano uma tira
de Mandrake (criado em 1934 por Lee Falk e excelente tema, tanto que Fellini
declarou que seria o mais feliz dos homens se pudesse filmar Flash Gordon e Mandrake)
de uns 30 anos antes disso falava da mesma coisa. Evidentemente Watterson não
copiou, foi uma crítica àquela coisa simplória de antes.
Bem, a superfície da
Terra tem 510 milhões de km2, dos quais 2/3 são de águas oceânicas;
com cerca de três quilômetros de profundidade média, isso dá 1,02 bilhão de km3
de água. Como a fórmula para volume é 4πR3/3 = 1,02. 109
km3, teremos R de mais de 600 km, ou seja, a nave espacial teria de
ser esfera de mais de 1.200 km de diâmetro e ser capaz de levantar do solo
contra 1,0 G (uma gravidade) um bilhão de bilhão (mil x mil x mil metros
cúbicos num km3, cada m3 de água pesando uma tonelada) de
toneladas. Bastaria fazer as contas, mas, é claro, os artistas são “plásticos”
e tem “liberdade poética” de serem anticientíficos. Ninguém vai fazer contas
nos quadrinhos de uma revista, mas podem recorrer a matemáticos e
tecnocientistas. É porisso que Watterson (americano, 1958 -, publicando CH de
1985 a 1996, 11 anos, 14 livros) zomba de algo que, como eu, deve ter lido em
sua infância.
Embora a
plasticidade dos desenhos não se perca com a revisão das antigas estórias em
quadrinhos, fica o remorso de os autores delas não terem tido mais cuidado em
pesquisar para dar base a elas. Neste sentido uma leitura crítica poderia ser
feita como tese de mestrado ou doutorado, apontando justamente essas falhas
abusivas, no sentido de tornar os futuros desenhistas mais cuidadosos contra as
mandragorias, aquelas afirmações sem o mínimo sentido.
Vitória,
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