sábado, 20 de maio de 2017


Anúncio Extravagante da Banalidade

 

                            O jornal A Gazeta nº 25.855, ano LXXVI, sábado, 27 de dezembro de 2003 estampou em manchete no lado de baixo da capa dobrada que um certo RS e sua esposa FQ enfrentavam preconceito, ele preto e ela branca, uma filha nos braços.

                            É falta do que fazer.

                            Porque no Brasil, embora exista preconceito em vários níveis, é também verdade que ocorreram MILHÕES de casamentos inter-raciais. Não é como nos EUA, nem na Europa, nem na Austrália, nem na Ásia, nem sequer na África onde isso pode ser visto de banda, nem mesmo no restante da América Latina. É no Brasil onde, pasme, MILHÕES (numa população de 175 milhões na relação 4/1 teríamos 43,75 milhões de famílias; das quais 44 % devem ser mestiços, daí perto de 20 milhões de famílias, sendo de casais de duas quaisquer “cores” ou raças diferentes). VINTE MILHÕES, imagine. E como isso vem rolando desde o Descobrimento, quando os primeiros portugueses degredados se misturaram com as índias daqui e depois com as negras, a seguir negros com brancas, brancos com asiáticas, asiáticos com negras, asiáticas com índios e sei lá mais o quê, é difícil até de listar. Se duvidar deve ter por aí alguns casais em que um dos dois é marciano.

                            Essa imprensa é esquisita.

                            Em vez de tratar de assuntos de ponta, que instigam e modificam as vidas por sugerir saídas mais produtivas fica remoendo o passado em busca de falsos escândalos. Vai ver que alguém vai anunciar daqui a pouco que na semana santa há gente comendo carne. Ou que estão desflorestando a Amazônia. Ou isso e aquilo, todas as banalidades transformadas em sensações falsas, pseudomanchetes. Que falta de assunto, minha gente! Vá buscar do que falar!

                            Agora, as coisas interessantes mesmo eles não falam, não vão lá mapear as condições subumanas em que vivem milhões de famílias de brasileiros, isso nunca dizem, isso nunca mostram, e tantas outras coisas que deveriam mostrar.

                            Deviam tomar vergonha na cara.

                            Vitória, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004.

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