Anúncio Extravagante
da Banalidade
O jornal A Gazeta nº 25.855, ano LXXVI, sábado,
27 de dezembro de 2003 estampou em manchete no lado de baixo da capa dobrada
que um certo RS e sua esposa FQ enfrentavam preconceito, ele preto e ela
branca, uma filha nos braços.
É falta do que
fazer.
Porque no Brasil,
embora exista preconceito em vários níveis, é também verdade que ocorreram MILHÕES
de casamentos inter-raciais. Não é como nos EUA, nem na Europa, nem na Austrália,
nem na Ásia, nem sequer na África onde isso pode ser visto de banda, nem mesmo
no restante da América Latina. É no Brasil onde, pasme, MILHÕES (numa população
de 175 milhões na relação 4/1 teríamos 43,75 milhões de famílias; das quais 44
% devem ser mestiços, daí perto de 20 milhões de famílias, sendo de casais de
duas quaisquer “cores” ou raças diferentes). VINTE MILHÕES, imagine. E como
isso vem rolando desde o Descobrimento, quando os primeiros portugueses
degredados se misturaram com as índias daqui e depois com as negras, a seguir
negros com brancas, brancos com asiáticas, asiáticos com negras, asiáticas com
índios e sei lá mais o quê, é difícil até de listar. Se duvidar deve ter por aí
alguns casais em que um dos dois é marciano.
Essa imprensa é
esquisita.
Em vez de tratar de
assuntos de ponta, que instigam e modificam as vidas por sugerir saídas mais
produtivas fica remoendo o passado em busca de falsos escândalos. Vai ver que
alguém vai anunciar daqui a pouco que na semana santa há gente comendo carne.
Ou que estão desflorestando a Amazônia. Ou isso e aquilo, todas as banalidades
transformadas em sensações falsas, pseudomanchetes. Que falta de assunto, minha
gente! Vá buscar do que falar!
Agora, as coisas
interessantes mesmo eles não falam, não vão lá mapear as condições subumanas em
que vivem milhões de famílias de brasileiros, isso nunca dizem, isso nunca
mostram, e tantas outras coisas que deveriam mostrar.
Deviam tomar
vergonha na cara.
Vitória,
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004.
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