quarta-feira, 19 de abril de 2017


Trabalho Cíclico e Trabalho Linear

 

                            Alguém sugeriu e eu acompanhei que o trabalho repetitivo, circular, por exemplo, o de dona-de-casa ou de garis é mal-remunerado porque não tem novidade nenhuma, ao passo que as inovações são bem remuneradas porque trazem o novo. Bom, na realidade o trabalho dos esportistas no futebol é circular, se repete, fazendo muitas décadas que não tem novidade nenhuma, mas é excelentemente remunerado. De fato, algumas fortunas podem ser encontradas no futebol, assim como no futebol americano, no vôlei, no basquete, em todo gênero de esporte, nenhum deles portador de grandes notícias.

                            Parece que a solução não é essa, pensando bem.

                            A solução é aquela trivial e profunda da oferta e da procura. Futebolistas talentosos são poucos, garis e donas-de-casa são muitas; mas excelentes donas-de-casa, governantas especializadas são bem pagas, e se garis fossem excelentemente treinados seriam mais bem pagos. A questão é sempre da raridade. Médicos ruins nunca prosperam tanto, ao passo que médicos bons enriquecem; mas médicos ruins sempre ganharão bastante dinheiro porque a quantidade de médicos que se forma a cada ano é pequena, por comparação com o oferecimento de garis. Um treinamento (8 + 3 + 6 =) 17 anos de cursos regulares mais dois anos de residência, total de 19 anos é estabelecido para preparar QUALQUER médico, ao passo que para gari não é exigido nem um dia – é só pegar a vassoura e ir varrendo.

                            Daí que exista TC (trabalho cíclico) quantitativo e qualitativo, tanto mal quanto bem remunerado, como assim também o TL (trabalho linear).

                            O caso é que os longos milhões de anos que as mulheres pré-hominídeas e sapiens passaram nas cavernas treinou-as para o trabalho circular e dizer que ele é e será sempre mal-pago seria condená-las, o que não é certo. Elas continuarão respondendo ciclicamente, sob pressão molecular, mas nem porisso recebendo pouco. A questão não é a circularidade e sim o preconceito de quem afirmou no início (não me ocorreu guardar quem).

                            As mulheres estão mais propensas ao trabalho circular e os homens ao trabalho linear, mas isso não distingue quem vai receber mais ou menos. E elas terem sido predispostas a isso exige que façam sempre algum gênero de trabalho circular, para apaziguar o espírito ou modelo ancestral, até que possa ser feita reprogramação genética. É preciso cuidado, quanto a isso, pois se não fizerem adoecerão.

                            Vitória, domingo, 14 de dezembro de 2003.

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