quarta-feira, 5 de abril de 2017


Nós

 

                            Mais e mais tenho pensado no Modelo da Caverna, de que outrora falou de diversa forma Desmond Morris no seu O Macaco Nu.

                            Sendo as mulheres coletoras que viviam em volta da caverna e os homens caçadores que iam longe em busca de proteínas, o que da lógica do raciocínio nos vem? Ora, se as mulheres ficavam juntas, com crianças, velhos e aleijados, que gênero de compromisso (a grande marca dos sapiens é justamente essa da simpatia pelo próximo e foi ela que criou a civilização e lhe deu esse impulso que imprimiu enorme velocidade à construção) elas criaram? Esse de ficarem juntas e criarem um vínculo, que é feito tanto de palavras quando de gestos, quase de pensamentos.

                            Veja que na Rede Cognata (Livro 2, Rede e Grade Signalíticas) nós = MULHERES = MENINAS = MÃES = MOÇAS = RAPAZES (o que é esquisito à bessa) = MENINOS, etc., ao passo que homens = SÓS = SOZINHOS = PRISIONEIROS = PÊNIS = PIRUS = PÔRRA = PERVERSOS, etc.

                            Nós nunca conheceremos essa identidade feminina das cavernas, essa convivência íntima, ao passo que elas também nunca saberão da convivência de caça, dessa proteção mútua que devemos providenciar para o grupo os que fazem guerra. Nunca saberemos o que elas querem dizer com “nós”, as mulheres, ao passo que elas não conhecerão o sentimento de ser “sós”, os homens, os esteios do mundo, o inquebrável que nunca pode arredar. Porisso que essa coisa de homem sensível, que chora, que se derrete, é mesmo coisa de boiola, de veado, de fresco, de enrustido que quer aproveitar a oportunidade para afeminar.

                            Assim sendo, quando as prefeituras oferecem praças descobertas, que não imitam a intimidade da caverna, o ajuntamento e o apertamento dentro delas, a escuridão e o compartilhamento, a convivência íntima, sabemos que elas não consultaram as mulheres (que falam pelas crianças, que não sabem se manifestar). As prefeituras deveriam revisar suas posições, estudando atentamente a Psicologia da Caverna, digamos assim.
                            Vitória, quinta-feira, 13 de novembro de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário