Eu Canto Samba
A música de Paulinho
da viola, de que mostraremos detalhes na apresentação. Ela deve constituir um
ciclo enorme, indo e voltando o tempo todo, com instrumentos saindo e entrando
constantemente. Quando chegar ao refrão, “há muito tempo/eu escuto esse papo
furado/dizendo que o samba acabou/só se foi quando o dia clareou”, o do violão
deve descer até a platéia, com a luz minguando progressivamente e quase
desaparecendo, ouvindo-se a voz baixinha do cantor no ouvido de alguém; depois
a luz vai voltando com a gritaria crescente e estrondeante dos instrumentos.
Depois de um certo
tempo de brincadeiras (tantos minutos quando seja conveniente e as pessoas
agüentem), quando parecer que já vai terminando, da rua vem chegando mais um
punhado de tocadores com grandes tambores, com pistões, com saxes, com maracas,
com tudo mesmo, dezenas, tantos quantos quiserem se juntar espontaneamente ao
projeto ou se consiga pagar, o que marcará a aderência de todo o mundo
exterior, entrando, invadindo pelas portas laterais.
Deve-se tocar até
que a platéia deseje se juntar também, fazendo uma arruaça danada, para denotar
a adesão do povo. Pode-se colocar alguns artistas contratados no meio dela, se
for tímida, para estimulá-la.
Para denotar o apoio
do Céu uns tocadores amarrados em cordas devem descer do teto tocando
furiosamente. E até as paredes tocarão quando umas pessoas ali postas, fundidas
com ela, começarem a tocar, ou já estando desde o início ou se inserindo nos
lugares quando a luz apagar.
Vitória, segunda-feira,
22 de dezembro de 2003.
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