quinta-feira, 20 de abril de 2017


Eu Canto Samba

 

                            A música de Paulinho da viola, de que mostraremos detalhes na apresentação. Ela deve constituir um ciclo enorme, indo e voltando o tempo todo, com instrumentos saindo e entrando constantemente. Quando chegar ao refrão, “há muito tempo/eu escuto esse papo furado/dizendo que o samba acabou/só se foi quando o dia clareou”, o do violão deve descer até a platéia, com a luz minguando progressivamente e quase desaparecendo, ouvindo-se a voz baixinha do cantor no ouvido de alguém; depois a luz vai voltando com a gritaria crescente e estrondeante dos instrumentos.

                            Depois de um certo tempo de brincadeiras (tantos minutos quando seja conveniente e as pessoas agüentem), quando parecer que já vai terminando, da rua vem chegando mais um punhado de tocadores com grandes tambores, com pistões, com saxes, com maracas, com tudo mesmo, dezenas, tantos quantos quiserem se juntar espontaneamente ao projeto ou se consiga pagar, o que marcará a aderência de todo o mundo exterior, entrando, invadindo pelas portas laterais.

                            Deve-se tocar até que a platéia deseje se juntar também, fazendo uma arruaça danada, para denotar a adesão do povo. Pode-se colocar alguns artistas contratados no meio dela, se for tímida, para estimulá-la.

                            Para denotar o apoio do Céu uns tocadores amarrados em cordas devem descer do teto tocando furiosamente. E até as paredes tocarão quando umas pessoas ali postas, fundidas com ela, começarem a tocar, ou já estando desde o início ou se inserindo nos lugares quando a luz apagar.
                            Vitória, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003.

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