terça-feira, 4 de abril de 2017


As Mulheres e os Alimentos

 

                            Gabriel, com aquele grande poder observador dele, reparou que as mulheres no restaurante falam constantemente de comida e conversando discutimos o Modelo da Caverna, de mulheres coletoras presentes e de homens caçados ausentes.

                            Não faria muito sentido caçadores, que devem comer as carnes cruas ou assadas em fogo - observando sempre em volta outros predadores maiores (que existiam às centenas e aos milhares; os homens caçando os pequenos e os grandes caçando os homens), constantemente atentos para não serem de repente comidos num salto inesperado – ficarem reparando ou “assuntando”, como diz o povo, nas propriedades dos alimentos, se estão eles bons ou ruins, desde que carne colhida recentemente não tem chance de ter apodrecido; se são deste ou daquele tipo, porque carnes nunca são (ou raramente são) venenosas, ao passo que faz todo sentido as mulheres estarem atentas a frutas (observavam os pássaros, com isso necessitando de memória deles, tornando-se, portanto, argutas observadoras), saberem reconhecer raízes e folhas e pequenos seres mortos, mas ainda comestíveis, desde que não estivessem degenerando, e outras ações ligadas à alimentação.

                            Ficando em volta das cavernas deveriam mesmo prestar toda atenção, conversando muito, passando as impressões. É pela lógica que devemos seguir e com isso vemos essas diferenças entre as posturas de homens na caça e de mulheres na coleta. “O que você achou desta fruta? ” “O que você pensa desta raiz? ” Homens não vão fazer essas perguntas: vão pegar e correr, fugir o mais depressa possível num mundo coalhado de assassinos fortes e dentuços. Isso explica as atitudes dos homens nas compras em supermercados e em centros de compra: é pegar e correr. Não é covardia. Se você não procedesse assim não deixaria descendentes, pois logo ali estavam os dentes de sabre, os leões, os tigres, as panteras, todo tipo de matador. Até os grandes herbívoros poderiam pisotear os pequenos macacos peludos que éramos.

                            Já as mulheres tinham todo tempo do mundo para conversar e ir acumulando memória de milhares de alimentos diferentes que estavam ao redor. Faz todo sentido a observação de Gabriel.

                            Vitória, sexta-feira, 14 de novembro de 2003.

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