quinta-feira, 23 de março de 2017


Vendo como Hostil

 

                            Quando estamos dirigindo esperamos usar ruas e não pensamos que elas são coletivas, de todas as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) nos AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo). Com os tributos todos são pagos exclusivamente pelo povo as ruas, as avenidas e as estradas são dele e todos nós apenas as tomamos emprestado.

                            Em particular, nas ruas andam automóveis, caminhonetes, caminhões, ônibus que remetem os pedestres para as calçadas. Até atravessar na faixa, com o sinal fechado, é perigoso, especialmente para crianças e idosos, cujas reações são mais lentas. Mas os que não dirigimos ou não temos carros também pagamos impostos e não as usamos senão numa proporção muito menor; então, estamos emprestando o que é nosso, sem remuneração. Não que alguém vá desejar isso, mas é só para lembrar.

                            Quando vemos algo como hostil, como inimigo ou adversário, lembramo-nos do que é vantajoso a ele e do que é desvantajoso a nós.

                            Como tivemos sempre uma cultura terceiro-mundista fortemente propagandista do carro como um valor pessoal indiscutível não tínhamos parado para vê-lo de fora, ad-mirá-lo, mas no sentido negativo, oclusivo, que nega valor, que subtrai existência ou direito de ser.

                            Por quê permitimos que o carro se tornasse TÃO MACIÇAMENTE presente, quase onipresente em nossas vidas? A ponto de quando, raramente, aparece uma rua-de-pedestres isso parecer uma violação, uma contravenção, um desafio dos que andam e não dirigem. Não obstante, o modelo diz que tudo deveria ser 50/50, meio-a-meio carros/pedestres, o que está longe de ser. Pelo contrário, os pedestres são postos de parte e até nas calçadas os carros subiam e ainda sobem, a ponto de ser necessário colocar hastes e barras de aço ou construir de alvenaria ressaltos e colocar vasos de flores, ou tomar atitudes drásticas, como guinchar o veículo.

                            Talvez devêssemos ver mais como sendo hostilidades certas dominâncias, de modo a restabelecer o equilíbrio perdido em algum ponto nas escolhas unilaterais passadas.

                            Vitória, domingo, 05 de outubro de 2003.

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