quinta-feira, 23 de março de 2017


Socioeconomia do Osso

 

                            Domenico De Masi organizou e introduziu o livro A Economia do Ócio, 2ª edição, Rio de Janeiro, Sextante, 2001, onde há um artigo de Bertrand Russell (filósofo e lógico galês, 1872 a 1970, 98 anos entre datas), O Elogio do Ócio, e outro de Paul Lafargue (político, nascido em Santiago de Cuba, 1842 a 1911, 69 anos, discípulo e genro de Marx; Lafargue não consta nem da Barsa digital nem da Britannica de papel), O Direito ao Ócio.

                            Não chega a ser homofonia, mas eu quis usar isso para falar de uma S/E de alto rendimento do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática), especialmente da frente de ondas da tecnociência, uma que, como os miseráveis, explorasse todos os recursos até o osso, comendo inclusive o tutano, que é altamente “sustante”, como diz o povo, altamente substancial.

                            Eis uma coisa extraordinária, o tanto que desperdiçamos, para o que já chamei atenção tantas vezes. Esse esbanjamento não pode ser coisa sadia, já que exclui tantas pessoas, já que projeta tantos na vida mais abjeta e repugnante, subumana, revoltante condenar à animalidade de tantas criaturas preciosas. Nós somos responsáveis por esse, sei lá, um bilhão ou mais de miseráveis que estão no limite da sobrevivência, condenados a usar mal essa dupla fonte de maravilhas que é o corpo e a mente humana. Tanto em termos organizativos ou sociológicos quanto em termos produtivos ou econômicos (agropecuária/extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos) deveríamos estar dando o máximo coletivo de nós para oferecer a todos e cada um o máximo de oportunidades, sem essa cruel assertiva de que eles não se esforçam. Claro, muitos não se esforçam mesmo, mas é condição de contraste civilizatório, de não se sentirem estimulados pelos índices atuais de futuro, os indicadores de sobrevivência que não lhes apetecem.

                            Nós devíamos estar fazendo mais.

                            É insatisfatório prosseguir assim.

                            Vitória, domingo, 05 de outubro de 2003.

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