Perigosa Renúncia à
Liberdade
Na seqüência dos
pensamentos de nosso amigo APB podemos deduzir que a liberdade a que ele
denominou GÁUCHO, que veio como pleito subindo do Rio Grande, ao atingir o Rio
de Janeiro encontrou terra fértil, já de si libertária, para a assunção e
expressão de um movimento que foi obstaculizado pelo escravagismo trabalhista
bandeirante, que mira única e exclusivamente o trabalho, e perante o qual
qualquer gênero de diversão é antagônico e daninho.
Disso, digo eu, veio
progressivamente terem tornado o carnaval de espetacular vetor da liberdade, de
explosão incomparável das dores e desacertos de um ano inteiro, numa
plastificada exposição turística, toda certinha e comportada, com grupos de
quesitos, com notas, com marcações superprecisas da liberdade estatuída,
institucionalizada, cooptada, corrompida. Para cúmulo do abuso o símbolo da
liberdade se tornou FOTOGRAFÁVEL, comportadinho, com passos milimetricamente
estudados, até o cuspe eventual vindo de uma garganta comprada pela mídia e a
propaganda.
O Rio de Janeiro se
tornou o anti-Rio, o emblema da chacota, o agora batalhador incansável das
rígidas posições do aço mais duro do coração ou da criação mais empedernida.
Continua lindo, mas é a “lindeza” dos puritanos, dos que querem ganhar o Céu
perdendo a alma, perdendo aquele bastião da independência. Lá se foi o Rio que
nós amávamos, ficando em seu lugar o cover de São Paulo, a caricatura do
trabalho escravista paulista. O carioca que imitávamos tornou-se de repente uma
imitação chulé do paulistano superapressado que detestávamos.
O Rio renunciou à
liberdade, vendeu-se, e com o dinheiro arrecadado no leilão de sua honra
comprou a prisão que o consome em miséria e desesperança. Abandonou o seu
projeto de vida por um projeto alheio que o faz rastejar. Deixou de ser o povo
e a nação livre e hospitaleira que venerávamos e ficou sendo o retrato
desbotado de São Paulo, uma imitação progressista das alucinações paulistas.
Vitória,
terça-feira, 29 de julho de 2003.
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