terça-feira, 7 de março de 2017


O Perdido Cérebro de Wiener

 

                            No mesmo livro de Asimov, Antologia/2, p. 19, ele diz: “Dessa forma, o professor avoado – contando que suas dificuldades se situem unicamente em se lembrar do próprio nome, ou de que dia é hoje, ou do que comeu no almoço, ou de que tem um compromisso marcado (vocês deviam ouvir as histórias sobre Wiener) – continuará sendo inteligente na medida em que for capaz de aprender, gravar e lembrar um extenso volume de informações relacionadas a alguma área associada à inteligência”. Mais abaixo, na nota de rodapé, acrescenta sobre Wiener: “Filósofo, matemático e cibernético norte-americano, Norbert Wiener (1894 – 1964) foi considerado um prodígio de inteligência. Além de contribuições decisivas ao desenvolvimento da informática, falava 13 línguas, inclusive a chinesa, pronunciando conferências científicas em todas elas”.

                            Veja como age a Natureza, ao montar esses cérebros extraordinários e no auge de sua potência matá-los! Isso é revoltante. E é claro que é o cérebro, embora o corpo lhe desse a forma característica; entrementes, se o cérebro e a personalidade de Wiener tivessem sido transportados a outro corpo as pessoas continuariam felizes em tratarem com esse formalmente novo ele.

                            Como poderemos compreender que a Natureza proceda assim e não tenha desenvolvido um gênero de sobrevivência do mais apto cuja aptidão fosse justamente a de sobreviver por séculos ou milênios? É claro que o projeto da Natureza é o do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática), aí a pontescada tecnocientífica, nela a pontescada científica (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6). Não podemos parar no nível da Psicologia/p.3, assim como não paramos no patamar da Biologia/p.2. Devemos caminhar como PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e como AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo).

O que aconteceria se indivíduos de centenas ou milhares de anos vivessem? Uma vez li um exercício de FC em que o personagem tinha justamente centenas de anos. Eles não teriam muitos filhos, só para começar, nem muita iniciativa porque poderiam esperar décadas para começar qualquer coisa – e assim o ritmo de ocupação do mundo e de mudança seria incomparavelmente mais lento. Sem falar em outros danos.

                            Seria interessante recomeçar exercícios aprofundados, mais detidos, com mais gente criando os roteiros de livros e de filmes, para termos uma referência sobre a qual pautar nossa percepção agora alargada. Pois todo mundo deseja viver centenas e até milhares de anos. Supomos sempre que teremos uma pessoa equilibrada assim do tipo de Wiener, mas do outro lado pensemos num destemperado feito Hitler.

                            O que um ser milenar faria? Se vivesse entre os de vida curta como nós sua presença contaminaria todas as pessoas e todos os ambientes e sua palavra seria lei, literalmente (sequer conheceríamos as leis como as conhecemos), sem qualquer reflexão possível ou destoante. De fato, a ÚLTIMA PALAVRA. Nos livros e Tolkien existem os elfos que vivem milhares e até centenas de milhares de anos, mas eles são bondosos e vivem apartados. Imagine um “eterno” entre nós, para encher-se de terror.

                            Talvez, afinal de contas, a Natureza venha agindo certo, embora a perda de um cérebro como o de Wiener nos encha de comiseração e desgosto. Como diz o ditado, talvez esse tenha sido dos males o menor, face ao congelamento que mesmo a mais bem-intencionada das grandes mentes poderia trazer se vivesse muito mais tempo.

                            Vitória, terça-feira, 05 de agosto de 2003.

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