Inimigo das Elites
Aquela alienação que
faz colocar nomes estrangeiros nos objetos – chamando os prédios de La
Residènce Victoria, The Four Seasons e outros nomes - e processos brasileiros é
anúncio e denúncia de distanciamento, de desconfiança, de separação.
Elas não se vêem,
não se enxergam, não se identificam como ELITES BRASILEIRAS e sim como elites
européias, imitadoras dos americanos, estrangeiras em sua própria terra,
incapazes de ter uma língua sua, dependentes no sentir e no pensar, macacas copiadoras
da pensimaginação formestrutural dos de fora, incompetentes para serem por si
mesmas.
Têm vergonha de seu
povo, querem ficar longe dele, fazem de tudo para ausentar-se dele e do país o
tempo que podem. Não se avistam nas coisas do país, não se organizam para ficar
aqui, são estrangeiras mesmo após 500 anos. Então, renunciam à língua, à
propriedade de serem por si e para si mesmas, ao convívio com seu povo, até à
possibilidade de identidade ou organicidade com ele. São alienígenas em sua
própria terra.
Seus prédios, os
produtos de sua economia, os poucos processos que inventam ou os muitos que
copiam, suas crianças, tudo tem nomes dos povelites de fora. Gabriel reportou
que a Volkswagen (é alemã, imagine) realizou pesquisa para dar nome a um veículo
e entre Tupi e Fox (raposa, em inglês) quase 90 % optaram pelo nome
não-nacional.
As elites
brasileiras vêem o povo brasileiro como inimigo. E de assim imaginarem acabaram
por construir a inimizade, com esse superreceio, esse medo pânico de se identificarem
com o que julgam atrasado. Acho que é o único caso no mundo (na realidade, não
é, muitas elites se envergonham de seus povos e é porisso mesmo que continuam
terceiro, quarto e quinto mundos) de elites que não tem povo. Estão tão
distantes quanto o povo (pobres e miseráveis), 80 % dos habitantes, ter 20 % da
renda, na proporção de 1/16.
Por imaginarem um
inimigo, comportam-se como inimigas e com isso construíram a inimizade, o
desassossego, a angústia de ser brasileiro.
Vitória,
sexta-feira, 17 de outubro de 2003.
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