domingo, 26 de março de 2017


Fora de Série

 

                            Dá uma aflição danada assistir séries, seriados de TV, porque fica tudo picotado. Um filme é inteiro, como um livro, e a menos que como antes possamos entrar em qualquer parte da exibição sempre assistimos do começo ao fim. Já filmes de TV e seriados a gente vê aos pedaços, o que deixa enormes buracos na cabeça, mormente em relação à compreensão, e eu gosto de várias delas. Então, a cabeça da gente fica como um queijo suíço, cheio de buracos, de vazios, que infernizam.

                            E não adianta passar de novo tempos depois porque a gente perde os horários ou passa muita propaganda e ao zapear (mudar de canal) a gente perde partes.

                            O certo então seria juntar, digamos, dez ou vinte filmes num disco supercifrado, digitalizado como a MP3 (que permite colocar 200 músicas onde normalmente cabem no máximo 20). Como os seriados são feitos para caberem em 60 minutos, junto com as propagandas - que em geral consomem 45 minutos -, num filme comum de duas horas (120 minutos) caberiam cerca de três episódios, mas se a tecnologia se adiantasse poderíamos assistir num só disco muito mais. O ideal seria empacotamento supercompacto.

                            E.R., a série médica, e Friends (bem como Arquivo X, que acabou) já duram nove temporadas, ou seja, nove anos. O ano tem 52 semanas, porém há a interrupção das férias de verão (inversas das nossas) e inverno, que somam (3 + 1 =) 4 meses ou 120 dias, sobrando [52 – (120/7 =) 17 =] 35 semanas; daí 35 episódios/ano x 9 anos = 315 episódios ou menos. Se coubessem 20 por disco bastariam 15 deles.

                            Naturalmente algumas providências seriam necessárias.

                            PROVIDÊNCIAS EM SÉRIE

·        Datação do episódio;

·        Numeração de cada um;

·        Descrição ou resumo dele;

·        Numeração e vinculação ou indexação das cenas;

·        Um CD ou fita explicativa geral;

·        Curiosidades, atores e atrizes participantes, custos, desenvolvimentos, início e término do seriado, condições de realização e inúmeras coisas interessantes;

·        Toda uma abordagem DE CONJUNTO da série, etc.

Há um punhado de dinheiro a ganhar com isso.

Quantas séries foram realizadas ao longo do cento e tantos anos de Cinema geral? Quantos milhões de pessoas se interessaram por elas?

As explicações econômicas, sociológicas, psicanalíticas, dos objetivos, do espaço e do tempo (geo-história) de realização são importantes, até para caracterizar a civilização ocidental, no que toca.

Fogo mesmo é ficar fora das séries, lembrando-se de milhões de pedacinhos, sem fechar o assunto como no caso de filmes e livros, que são pacotes completos. Jornais e revistas me trazem a mesma sensação de parcialidade, de incompletude, de insubstancialidade. A gente toda fica perdida. Que lições tirar das séries? Ficamos perdidos, do jeito que a coisa é hoje. Eles vendem o produto, mas não vendem satisfação integral.

Vitória, segunda-feira, 20 de outubro de 2003.

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