terça-feira, 21 de março de 2017


Exclusão Premiada

 

                            Existem inúmeros prêmios no mundo, os mais famosos sendo o Nobel, instituído por Alfred Bernhard Nobel (sueco, 1833 a 1896), inventor da nitroglicerina e da dinamite, que começou a ser dado em 1901, o Oscar, concedido desde 1928 pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o Pulitzer, estabelecido em 1917 pelo fundo deixado pelo jornalista Joseph Pulitzer (que nem era americano, era húngaro, 1847 a 1911).

                            Acho que valeria a pena a Academia (universidades e institutos) mapear o assunto.

                            Fica, é lógico, que alguém está sendo premiado, elevado a um pedestal, destacando-se do grupo no qual estava mergulhado. Receber um Prêmio Nobel é o equivalente a nunca mais pertencer à massa indistinta. Fatalmente a pessoa (indivíduo, família, grupo e empresa em que trabalha) é destacada diante das demais, razão pelas quais alguns fazem DE TUDO mesmo para recebê-lo, chegando até a falsificar informações. A guerra por posições e destaque é terrível, assombrosa, de fato. Creio que valeria a pena contar isso também, desde quando os primeiros prêmios foram estabelecidos.

                            Evidentemente, também, todos os que não ganham são excluídos, rebaixados, lançados a uma posição menor, embora muitas vezes possam ter feito contribuições significativas e até mais importantes que as dos premiados, não tendo sido reconhecidos pelos que concedem as distinções, o que pode amargurar muitas vidas, dedicadas até ferrenhamente ao bem-estar da humanidade. Isso deve ser mostrado, as grandes injustiças geo-históricas.

                            Além disso, os prêmios vão quase sempre para pessoas do primeiro e segundo mundos ou para aqueles que seguem as suas linhas programáticas ou problemáticas, isto é, suas definições do que constituem problemas que merecem ser resolvidos. Naturalmente os problemas do terceiro e quarto mundos, envolvendo estatisticamente 110 das 220 nações estimadas, são postergados ou nunca resolvidos, porque a massa dos recursos vai para pesquisas premiáveis. Fica difícil optar por caminhos sem qualquer possibilidade de expressão; é preciso ter uma determinação enorme para renunciar à projeção de si perante a família, os amigos, os colegas, todos que estão à volta – o ser humano é altamente dependente de aprovação. Assim, os prêmios acabam por ser um motivo para desvio em relação aos interesses dos “atrasados”, aqueles que não contam com o olhar da civilização. Os prêmios são instituídos, ainda que não seja o desejo do fundador, para excluir OS DEMAIS, os que sobram, os que não pertencem ao grupo dos aprovados.

                            Olhando francamente, é uma canalhice.

                            É segregação, sem dúvida alguma.

                            Qual o custo universal disso? Há uma funilização na direção/sentido do que é aprovado pelos institutos concessores, dependendo de eles terem ou não estatura moral suficiente para desgrudar-se de seu provincianismo relativo. Claro que o maior prejuízo fica por conta dos “atrasados”, mas também atinge os mais avançados, de dois modos: a) porque eles terão de fornecer verbas como ajuda humanitária, que contribui para manter os aleijões dos atrasados; b) porque os da rabeira socioeconômica se tornarão interessados em resolver os problemas DOS OUTROS, dos que são socialmente aplaudidos, e não os seus, e isso os manterá desarmônicos e improdutivos no interesse próprio, agudamente seu.

                            Vitória, segunda-feira, 06 de outubro de 2003.

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