Dívida do Coração
Clint Eastwood fez
um filme recente, Dívida de Sangue,
em que atuou e o qual dirigiu. É sobre perseguição policial a assassino serial,
que é atingido, no processo o policial que o persegue, CE, sofrendo um enfarto.
O assassino mata pessoas até que o tipo raro de sangue AB (na proporção de
1/200) proporcione um coração que não seja motivo de rejeição do policial. Depois
de esperar quase dois anos ele finalmente recebe o coração e dentro de 60 dias
já está correndo, subindo escadas, comendo rosquinhas doces, transando com a
moça 30 anos mais nova e fazendo outras travessuras.
O que nós sabemos é
que 500 mil - 900 mil realizam cateterismos – fazem operação do coração por ano
nos EUA, 1/600 (na Califórnia, estado mais rico, 1/60) do total. O caso é que
apenas em 1967 Christiaan Barnard (médico sul-africano, 1922 -) realizou o
primeiro transplante, no Brasil tendo sido Euríclides de Jesus Zerbini
(paulista, 1912 a 1993) logo em 1968 o primeiro a fazê-lo. Em menos de 40 anos
tornou-se corriqueiro, trivial.
E as operações
cardíacas, que no Brasil se faziam há 25 anos ou mais, tornaram-se ainda mais
comuns (fizeram em mim e em SO, um dos nossos amigos, e fazem em outros 300 mil
brasileiros por ano; a proporção de americanos/brasileiros é de 1,66, enquanto
que o de safenados é de SA/SB = 1,67, quase precisamente a mesma – a confirmar
informações – embora eles sejam incomparavelmente mais ricos que nós).
Claro, há uma dívida
de sangue, uma dívida de coração dos que fizeram a operação, porque a sobrevida
média é de 22 anos (365,25 x 22, mais de oito mil dias de susto), mas há também
o incrível índice, que é apontamento inquestionado, ao que sei: ninguém
pergunta PORQUE (condições científicas: físicas/químicas, biológicas/p.2,
psicológicas/p.3) os seres humanos estamos sendo empurrados tão maciçamente
para as doenças e porque tantos, tendo facilidades, mergulham nas soluções que
são agora as triviais, ou seja, porque não é feito esforço no sentido de evitar
a condição de doença, a condição cardíaca.
Como eu disse no
texto Duas Revoluções (Livro 36), talvez caminhos mais baratos (e populares)
devessem ser trilhados. O fato de os californianos fazerem DEZ VEZES tantas
operações quanto a média americana nos mostra como as facilidades podem nos
empurrar para o coração da dívida.
Vitória,
quinta-feira, 09 de outubro de 2003.
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