terça-feira, 21 de março de 2017


Assassinato Virtual

 

                            Com todos esses jogos (games, na outra língua portuguesa) eletrônicos ou de computador, há um tiroteio contínuo, uma saraivada de balas virtuais que consomem inumeráveis vidas trivialmente, do modo mais insosso possível, como sinais envolvendo luz e sombras, cores em movimento formando figuras que se assemelham ao “mundo real” (porque aquilo é real também, ainda que composto de sinais eletrônicos).

                            Há uma aceitação implícita geral de que as “pessoas” (indivíduos, famílias, grupos e empresas – por enquanto só indivíduos, mas logo aparecerão os outros) podem e até mesmo devem ser mortas, algumas vezes de modos bem bizarros, com enorme crueldade “ingênua”. Desde muito cedo as criancinhas estão sendo treinadas à aceitação virtual do morticínio, de verdadeiros massacres virtuais ou abstratos, mas que ficam dentro de suas cabeças. Quando despertei para a coisa me dei conta de quão longe fomos nessa insanidade, nessa doença mental.

                            Seria preciso fazer um levantamento de quantos jogos foram lançados, de onde provém (sua geo-história), quantos são mortos em média em cada um, qual o gênero de armamentos virtuais empregados e assim por diante. Seguramente é um ataque do demônio. Qual o papel desses jogos mentais na aceitação ou na preparação da aceitação das mortes reais como comuns, corriqueiras, vulgares? Em que medida estamos sendo levados à banalização da morte pelos games?

                            Se os jogos pregarem a destruição ambiental (dos municípios/cidades, dos estados, das nações e do mundo) os governos reagirão prontamente; por quê não o fazem quando se trata de pessoas? Contudo, se atacarem os grupos e as empresas, promovendo a vandalização destas, igualmente haverá gritaria. Em que medida, por parecer fácil na tela, os adolescentes americanos não estão sendo levados àqueles ataques a escolas?

                            Acho que isso deve ser prontamente revisto e largamente discutido nas famílias e nas escolas, nas repartições e nas fábricas, em toda parte, porque o preço de tal divertimento malsão está sendo muito alto.

                            Vitória, segunda-feira, 06 de outubro de 2003.

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