domingo, 19 de fevereiro de 2017


Richard Tarnas

 

                            Peguei muitos títulos dele, vou comentar alguns.

·        DEUS RENOVADO (p. 146): “Morrer com Cristo era ascender com Ele para a nova vida do Reino. Cristo era aqui interpretado como um ponto de perpétua inovação, um ilimitado renascer da luz divina no mundo e na alma. Sua crucificação representava a dor do nascimento de uma nova Humanidade e um novo Cosmo. Uma divina transfiguração se iniciara no Homem e na Natureza com a redenção de Cristo, aqui visto como um evento cósmico que afetava todo o Universo”. É a inserção na linha de decadência de um ponto a partir do qual há uma inflexão, um retorno para cima, uma perpétua renovação = INOVAÇÃO. A humanidade vai ALÉM-DA-FIGURA, trans-figura, passa a forma e se torna conteúdo (= CRISTO), verdadeiro Cristo, autêntica conceituadora, criadora de realidade.

·        GLÓRIA INCONCEBÍVEL (p.146): “Através de Cristo, aquela separação primordial estava sendo curada e a perfeição da criação restaurada em outro nível mais abrangente. A fragilidade humana tornava-se assim um momento da força divina. Somente a partir da sensação de derrota e finitude, o Homem poderia abrir-se espontaneamente para Deus; somente com a queda do Homem, Ele podia revelar plenamente sua glória inconcebível e seu amor, corrigindo o incorrigível”. Observe que se trata de corrigir o incorrigível, o que não pode ser corrigido por nenhum racional, nem pelos anjos, nem pelos semideuses, pois desde qualquer um até o não-finito onde Deus se encontra na Tela Final vai sempre uma distância infinita, mesmo do mais alto. Ora, a Queda vem da desconfiança do ser humano em Deus, da tentativa de ocultamento, o que levou à derrota e à consciência de finitude, ou seja, de que não será possível achar por si mesmo o caminho. Já esperada essa fragilidade, Cristo é enviado, Deus, parte de Deus, projeção de Deus dentro da Criação, digamos assim. Desse jeito o ser humano olha e vê, estarrecido, a glória de Deus como inconcebível, que não pode ser concebida – contudo, vê os rastros dela.

·        OS PRÊMIOS DA IRA DIVINA (p. 146): “Agora, até a aparente ira divina podia ser compreendida como elemento necessário em sua infinita benevolência e o sofrimento humano, como o prelúdio necessário para a felicidade ilimitada”. Veja que coisa mais interessante, a Ira Divina (em maiúsculas conjunto ou grupo ou família de iras divinas, toda uma sucessão) se manifestar como conserto, como reparo, e como prêmio. Em geral a ira humana significa para o objeto da ira castigo e dor, porém não com Deus, é exatamente o contrário, o resultado dela é a felicidade ilimitada, pois Deus considera não apenas o contrário, mas até o contrário do contrário.

·        A HORA MAIS TENEBROSA (p. 147): ”Podia-se ter absoluta confiança no Todo-Poderoso e abandonar toda a ansiedade pelo futuro para viver com a simplicidade dos ‘lírios do campo’. Assim como a semente oculta trazida da fria sombra do inverno florescia na cálida luz da vida na primavera, mesmo na hora mais tenebrosa a misteriosa sabedoria de Deus elaborava seu plano sublime”. Repare que a Fé é essa confiança, sem prova alguma, pelo simples desejo manifesto do coração, um alinhamento do que crê com Deus. Fé total, confiança total de que nas horas tenebrosas o socorro virá, bastando confiar, sem prova racional alguma. Essa é a única prova exigida. Mas quem não se prova pode seguir sozinho (as confusões que isso proporcionam não estão no gibi).

·        A CONVERGÊNCIA DO PLANO DE DEUS (p.147): “Todo o drama vigente da Criação à Segunda Vinda poderia ser agora reconhecido como sublime produto do plano divino, descobrimento do Logos. Cristo era o começo e o fim da Criação, o ‘alfa e o ômega’, sua sabedoria original e sua consumação final. O que estivera oculto se manifestara. Em Cristo, o significado do Cosmo estava realizado e revelado. Tudo isto era celebrado pelos primeiros cristãos em metáfora arrebatada: com a encarnação de Cristo, o Logos voltara ao mundo e criara uma canção celestial, sintonizando as discordâncias do Universo em harmonia perfeita, ressoando o gozo da união cósmica entre o céu e a terra, Deus e a Humanidade”. Veja no Livro 2, no artigo Rede e Grade Signalíticas, que podemos fazer as conversões: Logos = DEUS (tanto L sendo consoante quanto pseudoconsoante), harmonia perfeita = PRIMEIRA PIRÂMIDE, canção celestial = COMPOSISÃO CENTRAL (ou CRIAÇÃO GRANDE), “o Logos voltara ao mundo” = O DEUS CRIARA O MODELO.

Observe que Tarnas possibilita muitas reflexões majestosas, especialmente a partir do modelo que criei. Há algumas pessoas especialmente produtivas, que vão longe e que permitem ir longe. Embora não sejam os maiores filósofos, chegam perto da grandeza, e até vão além deles, desde quando os grandes são muito herméticos e não podem ser lidos pelo povo, nem sequer pela maioria quase total das elites. Só um resíduo pode lê-los, ao passo que gente como Tarnas permite a ascensão de tantos, o que agradeço muito.

Vitória, quinta-feira, 15 de maio de 2003.

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