quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017


O Que Lao Sabia

 

                            No mesmo livro de Cooper, p. 3, ele cita o poeta Po Chu-i:

                            ’Aqueles que falam nada sabem,

                            Aqueles que sabem se calam’.

                            Estas palavras, ao que me foi dito,

                            Foram proferidas por Lao Tzu.

                            Mas se devemos acreditar que Lao Tzu

                            Era um dos que sabiam,

                            Como explicar que ele tenha escrito um livro

                            De cinco mil palavras? ”, negrito e colorido meus.

                            É claro que aí há uma profunda zombaria de Po Chu-i, porque dez mil é o número chinês para inteireza, complexidade, completamento, daí ele estar dizendo que Lao Tzu escreveu um livro FRAGMENTADO, SIMPLÓRIO, INCOMPLETO.

                            Além disso, há o sentido mais trivial: se Lao Tzu dizia que os que sabem calam, o livro dele não pode ser tomado como índice de sabedoria, nem nada lá como apontamento para ela. Seria só enganação, tapeação, camuflagem. É sabido que os das sociedades secretas, associações de segredos, falam duas línguas, com duas vozes, uma interna (esotérica, dos discípulos) e uma externa (exotérica, dos visitantes, tomados como ignorantes dos conhecimentos mais altos e vedados). Todos procedem assim mesmo se não o desejam, como mostrou a Rede Cognata.

                            Entrementes, mesmo com aquilo que fala abertamente, Lao Tzu ou Tsu já ilustra (e muito) o universo, ao mencionar o equilíbrio, a disputa dos contrários por dominância e atenção dos seres. Pitágoras, Cristo, Moisés, todos os iluminados tinham um conhecimento mais interno, que não partilhavam com as massas, mas nem por isso deixaram seus ensinamentos exteriores de ter tremenda validade. E Lao sabia que o conhecimento mais interno não poderia ser imediatamente compreendido, mas que o conhecimento superficial seria, ainda assim, um índice, um apontamento que atrairia os menos bobos, entre os quais não se encontrava Po Chu-i.

                     Vitória, sábado, 31 de maio de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário