quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017


O Avanço da Confiança

 

                            De uma estimativa de diferença entre os chimpanzés e nós de 3 % (97 % de semelhanças no ADRN) passaram agora a 0,4 % (99,6 % de afinidades); como disse antes, repito agora que isso, montado como acordo crescente de PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e de AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo), veio a dar nessa superpotência humana que vemos agoraqui.

                            Se inicialmente a distinção se deveu a alguma construção fortuita no ADRN dos sapiens, dos cro-magnons, depois a pequeníssima diferença abriu as possibilidades de ajuntamento crescente, de gregarismo.

                            Veja o que diz o Atlas da História do Mundo, São Paulo, Folha, 1995, original do The Times de 1993, p. 34: “O sucesso dos que faziam a caça e a coleta dependia de inteligência e destreza manual, bem como da capacidade de trabalhar em conjunto e confiar uns nos outros”, negrito e colorido meus. A confiança significou essa abertura, a que veio se somar a língua como chave para a memória exterior, o que quer dizer, como mínimo, que cada ser humano poderia usar AS DEMAIS MENTES como biblioteca de processos que rodassem os produtos que fossem inventados.

                            Veja na página 38: “Os últimos 10 mil anos, quando prevaleceram as atuais condições climáticas, são apenas a última de uma dezena ou mais de fases que interromperam a Idade do Gelo. Este período assistiu a uma explosão sem precedentes do número de seres da espécie humana e seu impacto no mundo. No ano 8000 a.C. havia ainda pequenos bandos de homens que caçavam e colhiam, com estilo de vida pouco diferente de seus predecessores de 100 mil anos antes. Mas, nos 2 mil anos seguintes vilarejos consideráveis surgiram em certas regiões; nos 2 mil anos subseqüentes já havia cidades; 2 mil anos mais tarde as cidades-Estado viraram impérios; 2 mil anos depois, bases tecnológicas foram estabelecidas para realizações que nos mais recentes 2 mil anos incluíram a imprensa, energia atômica e a primeira ida do homem à Lua. Esta aceleração no desenvolvimento humano poder ser atribuída ao início da agricultura – a alteração deliberada de sistemas naturais para promover a abundância de uma espécie ou conjunto de espécies”.

                            Certo, a agricultura e a pecuária, a partir daí, mas o que levou a desejar a expansão da agricultura e da pecuária? Foi o crescimento das populações a atender. Ninguém se daria ao trabalho de expandir as lavouras e a criação doméstica se não fosse para alimentar um contingente crescente de gente. Portanto, na origem estava o crescimento populacional, que vem de confiarmos mais uns nos outros.

                            Primeiro de tudo estava a confiança, depois veio o crescimento populacional, significando a aceitação de mais criaturas vivas competidoras por alimentos no mesmo nicho espaçotemporal, com ela a necessidade de uma agropecuária mais produtiva.

                            A que devemos atribuir a abundância agropecuária senão à abundância da confiança humana? Foi ela que permitiu o crescimento acelerado da psicologia humana geral, foi ela que nos fez definitivamente diferentes de nossos primos. Foi o fato de confiarmos mais uns nos outros, como disse Jesus, noutras palavras (“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”): confiai uns nos outros como eu confiei em vós.

                            E é essa mesma confiança que a antiglobalização quer minar, evitando a expansão humana rumo a problemas maiores por resolver, por solucionar. Sem novos e maiores problemas não iremos ao futuro PORQUE, como já mostrei, o futuro significa principalmente solução de problemas e resistência, o que só se consegue fazer crescer geometricamente com base na exponencialização da confiança.
                            Vitória, segunda-feira, 02 de junho de 2003.

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