domingo, 19 de fevereiro de 2017


As Regras do Jogo

 

                            Um certo prefeito do ES receberia, segundo me disseram, R$ 100 mil por mês (e o ex-prefeito, amigo dele, levaria outro tanto); como já cumpriu um mandato de quatro anos e está a caminho de terminar o segundo, em 96 meses chegará a quase DEZ MILHÕES. Não sei se isso leva o indivíduo para o Céu ou para o inferno (engraçado que Céu é sempre grafado em maiúsculas e inferno sempre em minúsculas), se será punido pela lei humana, se terá a repulsa dos que não participaram nem compartilham das festas, mas em todo caso é deselegante.

                            É um jogo menor.

                            É jogo pequenino, mesmo, que ninguém aplaudirá.

                            Se existe encarnação não sei se vem com manual (não recebi o meu) ou se as pessoas esquecem o que sabiam, como dizem os religiosos, ou se tudo é matéria mesmo, que se extingue enquanto organização ao findar a energia que a sustentava naquele lugar e fazendo aquelas operações, mas em todo caso, tanto de um jeito quanto de outro, é divertimento trapaceado, querendo-se chegar alto e longe à custa de enganos e vilanias no caminho. A pessoa (indivíduo, família, grupo, empresa) não é aquilo que sua aparência apregoa. Aparência e profundidade, forma e estrutura, superfície e conceito, exterior e interior não coincidem – destoam totalmente, como esses crentes que se vestindo bem acreditam que estão agradando a Deus, ou aqueles iuppies que em o fazendo pensam galgar degraus (e às vezes topam com chefes idiotas que veem, nisso, utilidade).

                            É chato, é enganação, é engodo, é ilusão, é de todo ruim.

                            Bom é ver aquela pessoa que apesar de todas as dificuldades consegue vencer, contra todas as possibilidades, apensar de todo gênero de adversidade. Emocionante não é ver o cavalo bem tratado vencer e sim o pangaré que se desdobra e chega na frente. Esse arranca aplausos da torcida. Aquele só recebe o prêmio.

                            Vitória, sexta-feira, 30 de maio de 2003.

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