A Vida dos Simples
Com uma pontinha de
apreensão vejo a vida dos simples, os que usam seu tempo de vida nos sábados,
domingos e feriados (que no Brasil são muitos), mais o final do dia, para
folgarem. Vão a futebol, a restaurantes, a campos de bocha, a boliches, a
pescarias, a todo tipo de coisa, “para matar o tempo”. Falam de comidas e de
viagens o tempo inteiro. Não se ocupam de inventar o mundo e depois reclamam
barbaramente de o mundo estar ruim.
Como eu já disse, na
realidade não falta tempo livre na vida das pessoas, sobra demais, a ponto de
causar verdadeiras convulsões sociais o excesso desse tempo sem o que fazer.
Exceto para os trabalhadores braçais, que acordam às seis da manhã, ou mais
cedo, e voltam para casa oito da noite, ou mais tarde, dormem imediatamente
para conseguirem acordar no horário certo no dia seguinte, os demais, que são
muitos (estudantes, burgueses, professores, profissionais liberais, etc.), tem
muitas folgas. Mesmo os trabalhadores, com a semana de 44 horas ou de 40 horas ou
menos, mesmo os operários, ainda que no Brasil, dispõe de folgas incríveis.
A alguns, falta
tempo, a outros, sobra.
E deve ser mesmo assim.
Imagine se todos resistiriam à pressão de uma vida dedicada! Só alguns
abnegados podem fazer isso, já sendo seu prêmio o superesforço e o resultado
deve advindo. Os demais não agüentariam, de modo algum. O modelo diz que apenas
2,5 % da população, em seis bilhões somente 150 milhões no mundo inteiro, vão
ser capazes de supertrabalho. Os demais sucumbiriam, adoeceriam. Então, o mais
certo é que descarreguem mesmo suas tensões nessas atividades simplórias, pois
assim mesmo é que deve ser. E os governempresas devem justamente proporcionar o
máximo de atividades, devem dedicar departamentos inteiros a pensar continuamente
o tempo vazio dos simples, ofertando diversões, ginástica, debates, lazer.
Que não venham
fazendo isso é uma das fontes do meu aborrecimento.
Vitória, sábado, 24
de maio de 2003.
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