domingo, 19 de fevereiro de 2017


A Pequena Ética como Serviço de Classe

 

                            Foi a Danusa Leão que lembrou a mim que a etiqueta é a pequena ética, enquanto, naturalmente, a ética é a grande etiqueta.

                            A grande etiqueta, a geral mesmo, ultrapassa a dimensão de classe da guerra de classes PORQUE é justamente referência geral, apela àquele Sumo Bem de que falou Platão, ao perguntar das dimensões máximas, das razões permanentes que devem nos guiar.

                            A etiqueta, a pequena ou diminuta ética, é apenas a seleção natural dos trejeitos de classe, agoraqui das elites dominantes dentro do conjunto da burguesia. Vigia os gestos e não os conteúdos deles, a forma e não a estrutura ou idéia, a superfície e não o conceito, o exterior e não o interior. Apela para a “boa formação”, o que quer que seja isso, muito discutível, para con-formar os inconformados. Diz como devem se comportar uns e outros, a partir de uma PEQUENA NORMA em processo de evolução.

                            Isso evolveu na mesopirâmide, indo cada vez mais alto nas PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e nos AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo, agora em processo de globalização de tudo, inclusive da etiqueta); quanto mais alto vai, menos é deixado ao indivíduo, habilitando-se no mais alto contra o mais baixo, retirando-lhe liberdade para incorporar aqueles conceitos DISTANCIADORES de classe, quer dizer, o que é ou não permitido fazer PARA MANTER DISTÂNCIA visual dos pobres e miseráveis.

                            Desde criancinhas os da burguesia vão aprendendo os gestos internacionais sancionados que distinguem suas classes de ricos e médios-altos das demais. Esse serviço se classe é, pois, o da exclusão, que os de baixo, a quase generalidade, menos os resistentes, deseja aprender, com essas claudicantes e ridículas aulas de etiqueta que são publicadas pela Capricho e são seguidas pelas senhoras da periferia com reverência e temor.

                            É de rir.

                            Não obstante, não é analisado pela Academia como evento externo alienado e alienante. Essa psicologia DE TRAVESTIMENTO, de sobreposição como que de uma capa, de uma máscara de classe, passa longe dos santos redutos universitários.

                            Vitória, quinta-feira, 29 de maio de 2003.

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