quarta-feira, 25 de janeiro de 2017


Vendo o Coração do Império

 

                            Quando Roma era dominante, a periferia ia lá se chocar com as maravilhas da Capital do Império, vendo suas construções magníficas, formidáveis, entontecedoras. E foi assim com cada capital imperial e muitas cidades das satrapias e províncias.

                            Os provincianos sempre sofreram de dois modos: 1) por o centro ter o que eles não têm, 2) por, não tendo nas províncias o que outros possuem com fartura terem de prestar vassalagem mental. Essa dependência dos dependentes é que mata mesmo os invejosos. E, é claro, existem os que são mais felizes por não terem inveja de nada, sendo assim livres de imitarem alguém, mormente em ponto baixo.

                            Contudo, há dois mil anos levava-se três a seis meses, conforme a distância, para ir de uma província ao centro, ao passo que hoje as comunicações são instantâneas e vemos quase todos os dias as fotografias e as demais tecnartes centrais, por exemplo, as coisas de Nova Iorque, dita Capital do Mundo, ou de outras cidades dos países centrais. TODOS OS DIAS, se quiserem, os provincianos podem mirar o que não têm, deliciando-se com serem ou se considerarem pequenos e insignificantes. TODOS OS DIAS podem satisfazer seu masoquismo. Em filmes, em tudo mesmo, os provincianos de longe auscultam o coração do império bater a impotência deles. Cada batida é uma dor da ausência. Eu, que nunca invejei nada alheio, fico me sentindo um felizardo de ser como sou.

                            Vitória, domingo, 12 de janeiro de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário