Vendo o Coração do Império
Quando Roma era
dominante, a periferia ia lá se chocar com as maravilhas da Capital do Império,
vendo suas construções magníficas, formidáveis, entontecedoras. E foi assim com
cada capital imperial e muitas cidades das satrapias e províncias.
Os provincianos
sempre sofreram de dois modos: 1) por o centro ter o que eles não têm, 2) por,
não tendo nas províncias o que outros possuem com fartura terem de prestar
vassalagem mental. Essa dependência dos dependentes é que mata mesmo os
invejosos. E, é claro, existem os que são mais felizes por não terem inveja de
nada, sendo assim livres de imitarem alguém, mormente em ponto baixo.
Contudo, há dois mil
anos levava-se três a seis meses, conforme a distância, para ir de uma
província ao centro, ao passo que hoje as comunicações são instantâneas e vemos
quase todos os dias as fotografias e as demais tecnartes centrais, por exemplo,
as coisas de Nova Iorque, dita Capital do Mundo, ou de outras cidades dos
países centrais. TODOS OS DIAS, se quiserem, os provincianos podem mirar o que
não têm, deliciando-se com serem ou se considerarem pequenos e insignificantes.
TODOS OS DIAS podem satisfazer seu masoquismo. Em filmes, em tudo mesmo, os
provincianos de longe auscultam o coração do império bater a impotência deles.
Cada batida é uma dor da ausência. Eu, que nunca invejei nada alheio, fico me
sentindo um felizardo de ser como sou.
Vitória, domingo, 12
de janeiro de 2003.
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