Coevolução
No livro de Michio
Kaku, Visões do Futuro (como a
ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, p. 275, ele
diz: “A evolução, segundo os cientistas descobriram, geralmente se funda em
estruturas prévias. Embora haja exceções a essa regra, é comum vermos a
natureza adaptando e cooptando estruturas anteriores para construir novas.
Assim, mesmo em nossos corpos ainda existem remanescentes de genes que
controlavam as funções orgânicas de nossos mais primitivos ancestrais. (É assombroso
compreender que nosso próprio genoma contém fragmentos da história evolutiva
primitiva de nossa espécie, remontando a peixes, vermes e até às primeiras bactérias)
”.
O modelo é mais
completo que isso.
Para começar
deveríamos falar de GEOGRAFIA EVOLUTIVA e de HISTÓRIA EVOLUTIVA, a primeira
afeita aos CENÁRIOS EM EVOLUÇÃO e a segunda aos ENTES EM EVOLUÇÃO. No caso
humano, psicológico, racional, os cenários são AMBIENTES (municípios/cidades,
estados, nações e mundo) e os entes são PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e
empresas). Um gato é um ente dependente de seu cenário ou caixa de respostas,
seu nicho ecológico, onde ele se insere. Quando o gato muda ele interfere em
seu nicho, e vice-versa, se o cenário muda o gato deve mudar também, sob pena
de o não fazendo desaparecer enquanto futuro, cedendo lugar a outras
adaptações. Ora, dentro dos gatos deve existir uma quantidade reserva de
mutações, que nunca foram usadas, ou que foram usadas em outros ambientes e
aposentadas. Todo o passado dos gatos está inativo dentro deles (iriam para
onde esses genes aposentados?). Todos os ambientes que não existem mais foram
colocados em estase; se esses ambientes voltam os genes inativos são
subitamente despertados.
Então, há essa CO-EVOLUÇÃO dupla: evolução
dos ambientes ou geografias ou espaços, que é geral, coletiva,
misturada, e a evolução dos entes ou histórias ou tempos, que é particular,
individual, isolada.
Há uma outra co-evolução, a saber:
quando um organismo (ou um ambiente) muda todos os demais organismos devem em
alguma medida mudar. Tomemos nosso próprio caso: na medida exata em que os
seres humanos foram passando de indivíduos a famílias, a grupos, a empresas, a
municípios/cidades, a estados, a nações e agoraqui a mundo, tudo em volta teve
de se modificar também, teve de se adaptar imperativa e forçadamente. Uns
aderiram ao projeto, os animais domésticos, e outros foram caçados e extintos,
ou estão à beira disso. Daí que se o ambiente muda o ente deve mudar, e
vice-versa, se o organismo se altera o cenário deve alterar-se também. Acontece
que são 1,8 milhão de espécies já descritas e até 30 milhões estimados. A coisa
é exponencial, na medida em que há qualquer explosão radiativa ambiental
(vulcões, um ou uma série deles; queda de meteoritos; vazão nas fissuras entre
placas tectônicas; até a explosão de bombas atômicas e o vazamento de Three
Mile Island e de Chernobyl), acontecendo irradiações mais ou menos fortes, em
círculos concêntricos. A mudança de A induz mudança do ambiente A, ambos
alterando B e o ambiente B, daí voltando, ambos e os quatro mudando todos as P
(i) e todos os A (i), conforme as potências.
Isso, nessa extensão, não foi
investigado, nem foram feitas as ÁRVORES DE IRRADIAÇÃO, mormente a partir das
sobras fósseis. O mapeamento dos genomas será tão mais importante porque
poderemos seguir os rastros dessas co-evoluções, dessas interferências de entes
e cenários uns nos outros, em formidável exponencialização.
Vitória, quinta-feira, 23 de janeiro
de 2003.
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