A
Multiplicação da Verdade
Suponha que você,
detentor dos fatos, tente comunicá-los e haja uma perda na transmissão e uma
perda na reconversão ou recepção. Só para caminhar rápido, imagine que é de 30
% a soma delas, de modo que do total a cada vez passem somente 70 %. Assim
sendo, você comunica com total sinceridade a um dos seus quatro amigos mais
próximos, chegando a ele 70 % do que seria a verdade completa. Porque o mundo
dele é outro por palavras e imagens, em palavrimagens, em PAL/I a transcrição teria
outra formestrutura, havendo essa perda de 30 %, a qual se dá também quando ele
conta a um DOS SEUS amigos mais íntimos, um dos quais é você, mas três dos
quais são estranhos, ou mesmo conhecidos. Eles também recebem na mesma base de
30 % de perda, de modo que o terceiro a saber já está com 49 % da verdade. Na
terceira contagem, quarto a saber já baixou a menos de 35 %, depois a menos de
25 % e assim sucessivamente, de modo que lá para frente há uma versão de 1 % da
verdade original, com 99 % de modificações. Ainda é a verdade? Sim, pois a
verdade é relativa, só a mentira é absoluta.
Porisso
no meu serviço reclamam que eu não conto minha vida a ninguém. De fato, só
coloco por escrito, porque depois será possível contrastar o que eu realmente
disse com aquilo que dirão que eu disse e eu não só nunca disse como sequer
pensei. Assim, só o que escrevo foi o efetivamente vivido e provará quantas
mentiras foram inventadas a meu respeito. E a respeito de tantas pessoas,
especialmente as públicas. Um colega de infância brincou que nos tempos em que
eu andei “sumido” eu teria participado de guerrilhas; nunca, nem remotamente.
E, é claro, eu nunca sumi, só estive escrevendo, sem tempo ou desejo de ir às
festas.
Aliás,
renderia teses de mestrado, doutorado e pós-doutorado distinguir quanto do que
se afirma da vida das pessoas não passa de deslavadas mentiras. Vai daí que as
pessoas públicas nunca existiram de fato – porque a mistura de invenções com a
realidade não passa de mentiras, como disse Zaratustra ou Zoroastro: meia
verdade é igual a mentira inteira. O que, aliás, ele pode nunca ter afirmado.
Como iremos saber?
Vitória,
quarta-feira, 22 de janeiro de 2003.
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