Um Cérebro em Computador
Diz
Michio Kaku em seu livro Visões do Futuro (como a ciência revolucionará
o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, p. 120: “Para Herbert Simon, que
ganhou um prêmio Nobel de economia, mas também é especialista em inteligência
artificial, pensar é pouco mais que as regras que os programadores inserem
em seus robôs. ‘Será que o pensamento humano é apenas heurístico? ’,
pergunta Simon. ‘Eu diria que sim, é’”, grifo meu.
Olhemos
um liquidificador. Ele tem regras incorporadas: 1) as de construção do copo e
da carcaça, da base; 2) ao entrar eletricidade o rotor faz girar as hélices na
base do copo e ela tritura os materiais no interior dele. São regras, foram
inseridas; então o liquidificador pensa? Evidentemente Simon está errado.
Como
já ficou dito tantas vezes no modelo, a chamada IA, Inteligência Artificial,
não existe, só a MA, Memória Artificial, e esta desde quando alguém gravou pela
primeira vez um sinal fora de si mesmo, lá com os macacos e antes ainda. Não
existindo em conjunto memória e inteligência artificiais, não existe controle
artificial, portanto não há corpomente artificial.
As
regras não podem ser gravadas, ou não vai haver autonomia, que é o livre
arbítrio, a livre decisão nas encruzilhadas. Não há o que chamei de gerador de
autoprogramas, GAP, o ser não pode decidir sozinho.
A
heurística, arte de inventar ou de fazer descobertas, segundo o Houaiss
eletrônico, é só um nome para encobrir o desconhecimento. A consciência de si é
algo muito mais profundo, largo, extenso, incomparavelmente além do que já
fizemos até agora, que foi basicamente negar ou afirmar a possibilidade, e não
mostrá-la prática ou teoricamente.
Mais
abaixo Kaku diz: “(...) a consciência é algo efêmero, espalhado sobre muitas
estruturas do cérebro”.
Se
é “efêmero” (no HE, que dura um dia, que é passageiro), como é que eu e todos
nos lembramos da infância e de muitas coisas decorridas faz tempo? Como nos
lembramos de dias, de meses, de anos no passado? A consciência não dura um dia,
o que dura pouco é a memória, que é só parte da consciência. Lembro-me do meu
pai, que morreu em 13 de outubro de 1978, quase 24 anos atrás. Segue-se que
Kaku também está errado.
E
adiante ele diz, mesma página: “Outros acreditam que as várias partes do
cérebro geram simultaneamente diferentes ‘pensamentos’ que competem entre si
pela atenção do cérebro. Somente um pensamento então ‘vence’ esta competição. A
consciência, neste sentido, não é contínua, mas apenas a sucessão dos
pensamentos que vencem esta disputa”.
A
ser assim eu não poderia estar escrevendo esta página, PORQUE vários
pensamentos iriam emergindo na tela da minha consciência e eu me dirigiria ora
a um ora a outro, e assim sucessivamente, numa balbúrdia danada, ao passo que
posso, querendo apenas, desejando apenas, continuamente centrar-me numa linha
de pensamento.
Do
outro lado está o extremo polar oposto/complementar, os tais “novos
misterianos”, que dizem não ser possível construir consciência artificial. Ora,
o que somos nós, senão consciência artificial? E já era desde a primeira ameba.
Certo
está Heinz Pagels, físico, que disse (citado na p. 121): “’(...) você tem de
projetar e construir, não apenas falar sobre suas fantasias filosóficas’. Em
outras palavras, o único meio de resolver a questão é construir uma máquina
pensante”.
E
ainda, na mesma página: “Muitos críticos da IA, como John Searle, admitem que
os robôs um dia poderão simular pensamento com sucesso, mas continuarão
inconscientes de que estão pensando”.
Veja,
CONSCIÊNCIA é a mesmíssima coisa que pensar. Eles não irão “simular
pensamento”, pensarão mesmo! E tendo pensado estarão plenamente conscientes do
que pensaram. Con-sciência é estar ciente de si, ter conhecimento de si,
identificar-se como um eu. E pensar é isso também, igualzinho, sem tirar nem
por.
Não
só os computadores irão pensar, como o farão muito em breve, porque basta
juntar os pólos opostos/complementares, analógico ou pareado, e digital ou
seqüenciado. Feito isto, eis o cérebro em computador, eis o pensamento artificial.
E preparem-se, eles evoluirão muito mais rápido que nós, assim como os seres
humanos evoluímos, pela coletivização (das pessoas: indivíduos, famílias,
grupos e empresas; dos ambientes: municípios/cidades, estados, nações e mundo)
crescente muito mais rápido que a vida-racional pregressa.
Vitória,
quarta-feira, 28 de agosto de 2002.
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