Somente o Necessário
No filme Mogli,
O Menino-Lobo, de Walt Disney, o menino indiano sobrevive nas selvas. O filme
foi baseado em estória do livro The
Jungle Book (O Livro da Selva,
de 1894, traduzido como Mogli, o Menino-Lobo), do romancista inglês Rudyard
Kipling, nascido em Bombaim, Índia, em 1865 e falecido em Londres, Inglaterra,
em 1936, 71 anos entre datas. Tendo sido criado por animais, em especial uma macaca
(mesma base de Tarzã), teve como companheiros um urso, Balu, e uma pantera
negra, cujo nome esqueci, além dos próprios macacos.
Lá pelas tantas
todos eles cantam uma canção que me cativou por décadas a fio, “Somente o
Necessário”, cujo autor desconheço. É muito bonita, tanto letra quanto música,
e é emocionante, porque durante essas décadas eu a tive como um guia. E é
verdade, a gente precisa somente do necessário, o extraordinário é demais.
Contudo, o problema
reside justamente em saber o que é o necessário, e necessário PARA QUEM.
Suponhamos que vamos a um supermercado hipotético e rotulamos as mercadorias
(todas as que existirem) como essenciais e supérfluas, colocando selos E e S.
Outra pessoa que vier logo em seguida fará outras escolhas, e assim por diante.
DE quantos modos cada item pode ser rotulado?
O modelo ensinou que
há cinco (5) classes do labor:
operários, intelectuais, financistas e militares, mais o centro, burocratas. As
classes de produção ou econômicas
são cinco também (5): agropecuária/extrativista, industrial, comercial, de
serviços e bancária. Os sexos devem
ser quatro (4): machos, fêmeas, pseudomachos e pseudofêmeas. As idades poderíamos ver como cinco (5):
crianças, adolescentes, adultos, maduros e velhos. Os mundos são quatro (4): primeiro, segundo, terceiro, quarto. As Naturezas são seis (6): N.0
(físico-química), N.1 (biológica/p.2), N.2 (psicológica ou humana), N.3
(informacional/p.4), N.4 (cosmológica/p.5), N.5 (dialógica/p.6). As classes da riqueza são quatro (4):
ricos, médios-altos, pobres e miseráveis, cada uma divisível em outras quatro.
Os modos de conhecer são cinco (5):
Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e
Matemática, cada um se separando em seis outros submodos.
Aí já teríamos 5
(labores) x 5 (produções) x 4 (sexos) x 5 (idades) x 4 (mundos) x 6 (naturezas)
x 4 (riquezas) x 5 (conhecimentos) = 240.000 modos de escolher o que é
essencial ou supérfluo, o que é vital e o que dispensável.
Podemos pensar nos humores (estados de espírito:
tristíssimo, triste, indiferente, alegre, alegríssimo - cinco), na disciplina (não se confunde com os
anteriores, porque uma pessoa pode estar muito alegre e ser tão disciplinada
que não se deixe gastar em excesso – disciplinadíssima, disciplinada, média,
indisciplinada, indisciplinadíssima, também 5), estar sozinha ou acompanhada, comprar
para si (sabidamente as pessoas preocupam-se menos consigo) ou para outros
(companheiro/a, família, grupo, empresa). Aí já passam de 20 milhões as
possibilidades.
Como depende do
tempo disponível, da temperatura, de estar chovendo ou não e enfim de um milhão
de condições, haverá tantas escolhas quanto há seres humanos. Depende de a
pessoa estar apreensiva ou não, de haver morrido um membro da família, de
tantas condições que é verdadeiramente indescritível.
Além disso, como
tudo é 50/50, soma zero, os dois lados se equivalem em termos de arrastamento
econômico e sociológico, socioeconômico ou produtivorganizativo. Quer dizer,
tanto o imperativo quanto o superabundante possuem capacidade de fazer
prosperar. Há gente de espírito simples e há gente afetada. Ambos os grupos
podem ser iluminados. E em ambos haverá gente que nunca perceberá nada.
Pode ser
interessante para o meu modo de ver as coisas o “somente o necessário, o
extraordinário é demais”, mas isso não se prende diretamente aos objetos a
escolher, nem por sua forma nem por seu conteúdo. Poderíamos dizer que comprar
dez pares de sapatos é demais? A Imelda Marcos tinha três mil pares. Acho que
aqui realmente há o excesso, pois a pessoa só tem dois pés e mesmo calçando um
por dia ainda vai levar 8,2 anos para pôr todos. Qualitativamente já vimos que
não pode ser, não há limite para a riqueza, nem para a liberdade de escolha.
Entretanto, como em relação à riqueza, há excesso quantitativo, que eu,
entretanto, não sei traçar. Seriam 50 pares o limite? Materialmente deve haver
algum, mas isso logo se transforma em qualidade, porque na mente doentia dela
três mil era só um número ostentatório. Não eram pares reais de sapatos senão
depois. Por princípio eram números reveladores do poder, do bloqueio das vontades
alheias pela libertação exagerada da sua. Nisso temos de novo a qualidade.
E com isso o debate
prosseguiria.
A saída é cada um
fazer a sua escolha e o mundo ir seguindo em frente, até onde der. Há livre
arbítrio, tanto de quem escolhe, quanto do lado dos que se lhe opõe. Se,
pessoalmente, não é possível decidir, do lado ambiental os choques decidem
pelas pessoas.
Vitória,
quarta-feira, 24 de julho de 2002.
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