segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Radiação de Fundo

 

                            Quando as estrelas emitem, para onde vai a radiação que não toca os objetos da circunvizinhança estelar? Naturalmente a proporção da que incide em algum objeto versus a que passa direito é descomunal em favor desta. É só ver na fórmula que dá a superfície da esfera (4πR2/3) com uma UA (unidade astronômica) = 150 milhões de quilômetros, distância do Sol à Terra, contra o círculo que tem o raio da Terra, 6.372 km (πr2), portanto (R/r)2 x 4/3, proporção de 70 milhões para um.

                            Já li em algum lugar que o Sol emite o equivalente em massa a cinco milhões de toneladas por segundo (os livros de Halliday & Resnick dão o valor de 3,90 x 1026 w, watt, joule/s, faça as contas), num ano 365 x 24 x 3.600 x 5 x 106 ton = aproximadamente 1014 ton, de que a parte destinada à Terra é de 0,07 ton por segundo (em dados reais, sem necessidade de apelar para a memória endolocalizada, 5,57 x 1018 J/s, portanto, num segundo).

                            Só de passagem, apesar de ser aparentemente pouco, devemos dizer que, dos 100 % que chegam à Terra, 60 % são refletidos pela atmosfera, a vegetação terrestre pega 3 %, a vegetação marinha 0,16 %, a evaporação 16 %, 11,6 % são refletidos por outros meios e outro tanto é absorvido pelo solo, segundo a Enciclopédia e Dicionário Koogan/Houaiss, p.310. Uma insignificância serve para nos manter, creio que uma em dez mil partes.

                            Pois bem, de cada 70 milhões a Terra aproveita uma parte, o resto é perdido. E a soma dos objetos do SS não vai ser quase nada diferente disso, de forma que erro para lá, erro para cá, podemos mesmo ficar com isso de 70 milhões para um.

                            Veja, o mesmo acontecerá em toda parte, porque o Sol é uma estrela média, comum, vulgar, comparada com outras (mas é a fonte de nossa existência imediata, enquanto gerador de energia). Agora, são, digamos, de um a 100 bilhões de galáxias, cada uma com em média 400 bilhões de estrelas, 1020 a 1022 estrelas. Toda essa imensidão de radiação é espalhada a cada segundo e à velocidade da luz.

                            Como imaginei, isso constitui a radiação de fundo, que está espalhada em toda parte. Ela não é exatamente a mesma em todo lugar, não é como um espelho. A superfície dos oceanos também ondula ligeiramente, não é um espelho. O espelho mesmo contém buracos.

                            No entanto, a analogia não pode ir muito longe, porque se nos oceanos um objeto fica rodeado de água, que nele não entra, a radiação de fundo penetraria em tudo, ficaria em princípio bem no interior mesmo de todos os objetos, permeando-os inteiramente. Como a velocidade da luz é grande e as estrelas estão bem distribuídas, não vai haver muita diferença entre as alturas dentro das galáxias e no meio intergalático. Não muita, mas haverá. E, como eu disse, a radiação de fundo não está no passado, ao contrário dos objetos luminosos que vemos. Se você olha para Andrômeda, ela se encontra a dois milhões de anos-luz, quer dizer, a vemos como era há dois milhões de anos – ela hoje está em outra posição, conforme seu vetor de deslocamento. Contudo, a RF está sendo emitida por todos os objetos, até planetas “frios”, de modo que TODOS, mas todos mesmo, a emitem, porque TUDO é mais quente que ela, referencial de todas as coisas, 3ºK. Assim, todos os objetos do universo estão emitindo para o ambiente RF. Emitem para fora, para dentro, para todas as direções e sentidos.

                            O resultado é que a RF está em toda parte. Evidentemente, onde uma coisa é mais quente que 3º K, é aquela temperatura que prevalece. Por comparação com o nível do “mar” RF, a superfície da Terra, a 27º C (só para facilitar a soma) ou 300º K é uma montanha altíssima, e o Sol mais ainda. Evidentemente tudo a três dimensões e não a duas, como vemos o mar.

                            Se víssemos a RF em duas dimensões, ela seria a lâmina d’água do mar, elevando-se nas galáxias os continentes de calor com algumas montanhas altíssimas, que só poderíamos ver se usássemos escalas logarítmicas. Enfim, o universo não está mesmo a 0º K, há um fundo a 3º K. Esse é o depósito do lixo entrópico que serviu à construção deste universo. Em outros, maiores ou menores, existindo há mais ou menos tempo, a RF terá outros valores.
                            Vitória, terça-feira, 20 de agosto de 2002.

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