sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


O Prazer de Inventar

 

                            Durante anos, mais de duas décadas, insisti com     meus três irmãos sobre criarmos objetos e procedimentos diferentes, a começar do recolhimento do lixo e seu aproveitamento, sem qualquer sucesso. Meu irmão mais novo, Rogério, finalmente registrou duas patentes. Tempos depois comecei a buscar dados na Internet e a seguir a descrever as minhas.

                            Então fiz meus planos, sobre escrever até quatro mil patentes e idéias. De fato, fiz 1,7 mil das primeiras e 2,3 mil das segundas, e parei, depois de seis anos do início das buscas efetivas. A seguir recomecei e agora estou a caminho de 3,6 mil de umas e 2,4 mil das outras, seis mil no total. Entre elas há melhores e piores. Penso geralmente nas formas, nas coisas visuais, do dia a dia, o primeiro dos cinco degraus: muito simples, simples, médias, complexas e muito complexas. A primeira metade, e até mesmo as médias, podemos fazer só visualizando, ou seja, com base em formas ou imagens, em vez de conceitos ou conteúdos, que dependem da tecnociência.

                            As imagens vêm fáceis, os conceitos dependem de muitos estudos. Tudo dá prazer, alguns são emocionantes mesmo, até entusiasmantes. Acho que podem se imaginadas milhões de formas – os americanos já registraram, de dentro e de fora, mais de quatro milhões de patentes.

                            As patentes e os modelos de utilidade são protegidos por 17 anos, enquanto os desenhos industriais são-no por 20 anos. As idéias, embora não protegidas, são para sempre, podendo durar indefinidamente, criando “n” firmas, com duração típica de 100 anos ou enquanto a família durar. Claro que elas estão sujeitas a concorrência, o que é bom e ruim. É ruim porque alguém imediatamente se apodera de sua idéia; todos se lançam na nova vereda, que logo se transforma numa avenida atolada de carros-empresa em tremendo engarrafamento do fazer. É bom porque leva à competitividade, à luta pela sobrevivência do empresário mais apto, à guerra desenfreada por aprimoramento, que beneficia tremendamente a humanidade. Que sobreviva o melhor. Também teremos de lutar, o que é bom, pois tira as pessoas do comodismo.

                            A idéia da colocação de um novo tipo de bar, por exemplo, nos levará a mais choques de aprendizado e ensinamento com o ambiente. Tanto nós inventamos para ele quanto ele para nós, refertilizando nosso fazer. Na patente isso também existe, mas em menor grau, com a proteção de mercado.

                            Tudo isso, em conjunto, é que é emocionante, que dá prazer, todo esse embate contínuo, sem permitir o acomodamento, não só seu como de toda a sua família. No meu caso, em especial, estou pensando na associação com parentes (próximos e distantes), com amigos e até com colegas, para não falar da participação natural dos filhos.

                            Isso tira-nos da insipidez, da mesmice, da vida comum, plenamente aborrecida dos seres humanos. Só isto já seria algo de fantástico, sair dessa página em branco que é, em geral, a vida de quase todos os seres humanos, essa falta terrível de notícias e novidades.

                            Vitória, domingo, 11 de agosto de 2002.

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