O Ouro de Vovô
Já
contei essa história. Meu avô paterno, Ângelo, viveu até os 96 anos. Uma década
antes de morrer começou a caducar e nos últimos anos estava entrevado na cama.
Antes disso, porém, começou a colher na rua onde morava em Cachoeiro de Itapemirim
um monte de pedras, que foi empilhando num quarto. Acreditava piamente ser
ouro. De vez em quanto, à medida que a questão se aprofunda em minha mente,
volto ao assunto.
É
que a terra/solo é um dos vértices da Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo,
fogo/energia e os centros). A pedra representa na minha mente a terra/solo.
Evidentemente em sua mente adoecida meu avô fez a ligação espúria, mas ao mesmo
tempo verdadeira, pois o solo é nossa base, nossa casa de nascimento,
crescimento, produção e morte. Se segue que é ouro mesmo, coisa preciosa.
Isso
me diz que devemos olhar detidamente os elementos todos, aprendendo a
valorizá-los com atenção e desvelo, com o máximo de perspicácia e diligência. É
certo que a maior parte dos seres humanos, tipo 99,99 %, não dá a menor bola
para quase nada. A Vida vai livrar-se da parte maior, deixando poucos para a
sobrevivência. Pois, creia, já fez isso, e continua a fazer. Se existem 6
bilhões de seres humanos já morreram 100 bilhões. Se há tantas espécies
vivas, 99,9 % morreram. Tudo que há agora é o mínimo.
A
Vida descarta mesmo.
Descarta
todos que não valorizam ao máximo, porque dar o máximo de valor ao que está
fora é dar o máximo de valor a si mesmo, sendo um valor altíssimo de
sobrevivência. Não que vovô, com seu gesto louco, tenha tido valor de
sobrevivência nele, nesse gesto. Mas pensar na terra/solo como um supervalor
alerta-nos para a necessidade de rever o entorno, de re-olhar as coisas, de
re-pensar tudo. A sobrevalorizar tanto o exterior quanto o interior de nós.
Vitória,
domingo, 18 de agosto de 2002.
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