O Fim da Igualdade
Os
seres humanos desta era primitiva vivem separados por inúmeras simbologias,
inclusive o dinheiro, que é, em papel, em metal, em números, em plástico, a
escora de todas as máscaras, ou seja, da comodidade de evitar o diálogo que a união
pressupõe.
O
dinheiro é o mascarador mor, o maior que há.
É
a interface que possibilita a troca de info-controle, conforme eu disse já
tantas vezes. É a tintura, o verniz da propriedade. Com ele os seres humanos
não necessitam da conversação, da convivência com o próximo. É uma era
horrível, esta do capitalismo de terceira onda no planeta Terra, 2002, onde
estamos inseridos. Bem sei que estes livros, na qualidade de conversa comigo,
são uma confissão, em certa medida, e uma rendição, porque no fundo significam
que, por trás de toda alegria de poder estar manifestando as coisas que pensei
e senti, há a certeza de que capitulei.
Resisti
até 1991, pois em junho ou julho de 1992 comecei o primeiro texto do modelo,
tendo terminado-o em agosto/92.
Aqui-e-agora,
hojaqui, confesso penalizado que terei de me render à posse, menos por amor de
mim, porque vejo cristalinamente o que se seguirá, e mais por amor às
necessidades dos meus filhos, a quem muito amo. O dinheiro, enquanto separador
maior, evitei sempre, pois com ele vem os juros incontornáveis que os
acumuladores ganham, e os juros constituem parasitismo, a sobre-afirmação da preferência
do parasita, que pode ser, no entanto, um comensal cooperador.
O
dinheiro é o símbolo externo da posse de cada coisa, e a posse é
distanciamento, é o sistema perverso, o duplo, a traição do “superior” e do
“inferior” do desigual, da desigualdade. Cheio de dores, evitei os juros, a
acumulação, vivendo sempre rente à pobreza, sempre necessitando de ajuda e de
socorro, o que também é trágico.
Por
vias tortas, essa mesma desigualdade da posse faz avançar a igualdade preciosa,
de modo que há alguma justiça que eu, para chegar mais longe, tenha que recuar
para os braços dos primitivos, dos bárbaros, dos incultos, dos incivilizados. É
trágico demais, para mim, e eu aqui sozinho choro.
Vitória,
quinta-feira, 29 de agosto de 2002.
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